Na história, a condição da
marginalidade decorre da evidência da ordem. Marginal é o desordenado,
descentrado, ameaçador, periférico, diferente. Nas práticas sociais, nas formas
artísticas ou nos projectos políticos, ser marginal (ou estar nas margens)
traduz uma posição negativa, por oposição ao que se apresenta como central,
dotado de força e de exemplaridade.
A negociação entre sistema e
margem, radicalizada talvez pela evidência do que Foucault afirma sobre o século
vinte, o ser humano ‘pensar o impensável’, caracteriza muito do que significa,
presentemente, ser ou estar nas margens. O que aí reside parece dotado de um
grande poder de atracção, potenciando outros regimes de significação, abrindo
portas a novos paradigmas e afirmando pontos de vista informados por realidades
e conceitos plurais, mesmo quando radicalmente distintos.
É de tudo isto um pouco que o
ciclo subordinado ao tema ‘marginalidades’ se faz. Margens deslizantes, centros
ambivalentes, cruzamentos e transgressões. Na programação destacamos um
belíssimo espectáculo de teatro de marionetas centrado em Prometeu,
figura mítica da transgressão. Uma exposição, de Andrea Inocêncio, dedicada à
figura feminina e à busca de uma sua concepção heróica, isto é, liberta e
libertária, que a apresenta à prova de fogo e de bala. E mais uma etapa
do ciclo de cinema dedicado às Sexualidades, desta vez com filmes que nos
confrontam com as muitas faces da marginalidade naquele domínio. Mas há mais
cinemas, pois regressam os filmes no largo e, claro, o convite para virem até
São Vicente! Os ciclos são para si, apareça em Évora!
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