ontem em lisboa para nos apresentar heart of a dog, laurie anderson falou-nos do que a motivou para este seu filme: aparentemente, uma cadela chamada lolabelle, muito especial, mas já desaparecida.
mais do que isso, o que faz mover laurie: a linguagem, diz ela. a memória, o próprio cinema, dizemos nós, como modo de organizar a informação do ponto de vista visual e da narrativa da imagem em movimento, mas também de uma ideia de autoetnografia que inclui a fotografia, a música, e a vida organizada em histórias de vida. todo um processo, enfim. para a segurança interna, como também para a sociologia, essas histórias são "dados". nos estados unidos de laurie tratam os humanos como matéria classificada, e fonte de (in)segurança.
só vendo o filme para admirar o modo de fazer cinema de laurie: fala de coisas vistas ao nível do olhar de um cão (será que isto vem do cinema japonês, de Ozu, que filmava à altura da cabeça do cão).
laurie fala-nos das emoções e sentimentos inerentes ao ser humano como um processo que começa na infância (dela) e que é trabalhado ao longo da vida, lançando questões, fazendo um estado da arte sobre a linguagem que vai a wittgenstein (tratado lógico-filosófico, ponto 7: «Whereof one cannot speak, thereof one must be silent.»), e a kierkgaard.
aqui e ali, ela vai juntando os elementos biográficos, sonoros, musicais, na sua própria narração. e que voz nos oferece ela!!
o lou reed, a quem é dedicado o filme, «ao espírito do meu marido lou reed», aparece na parte final da banda sonora, a cantar o tema que serve o genérico; é ele também que aparece no papel do «médico» de laurie (criança) quando ela passa uma temporada no hospital, e ainda é ele que surge num quadro-momento fugidio na praia. saudade de quem partiu.
não sabemos quando este filme vai para as salas (devia ir já amanhã ; ) mas procurem saber junto do lisbon estoril film festival. ontem foi a estreia em Portugal e segundo paulo branco a segunda vez que foi apresentado na europa. estão de parabéns pela noite de sábado. obrigada. dizem-nos que a laurie anderson vai estar de novo no festival, desta vez no monumental, hoje, domingo, 16h30, para falar sobre william burroughs.
em jeito de nota, foi pena na quinta-feira passada ter sido cancelado o filme de john berger, «ways of seeing»: 'a cópia chegou em más condições' - disseram. resta-me o livro, e se eu gosto dele. love love love. You. my love.
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