« A última edição da PORTEX mostrou uma parte do futuro da moda portuguesa. Foi de quarta a domingo da semana passada na Exponor, em Matosinhos, e o ambiente sentido era de acalmia antes da tempestade.
O Forum de Moda PORTEX, espelho e bússola das tendências para o próximo Outono/Inverno, ocupava um amplo espaço entre os dois pavilhões ocupados pelos 180 expositores nacionais e estrangeiros. Concebido por uma equipa de estilistas chefiados por Nuno Eusébio - que se encarrega da tarefa pela terceira vez consecutiva - o Forum revelou-se como um espaço desinteressante, onde ninguém se demorava muito tempo por nada ajudar a concentrar especialmente a atenção. O mesmo já se não pode dizer do show da PORTEX CHICK, um salão especializado de moda íntima, lingerie e banho, onde todos os dias se desenrolava o "show da cueca", como era conhecido entre os industriais. Em ambiente soft-core, o show coreografado por Brian MaCarthy tinha sempre uma plateia curiosa e 90 monótonos minutos pela frente.
Algo despida, a PORTEX registou no seu primeiro dia uma afluência de visitantes estrangeiros bastante menor do que na edição anterior : 227 contra 421. E, de uma maneira geral, esta feira organizada pelo Gabinete Portex com o apoio do Instituto do Comércio Externo Português (ICEP) apresentava ao recém-chegado corredores mais vazios do que seria de desejar. Os esforços de internacionalização das actividades da PORTEX encontram nesta edição o seu eco junto de "nuestros hermanos" : um acordo com a Caja de Ahorros de Salamanca levou à visita de uma missão comercial que integrará chefes de compras de Castilha e Leon; e três estilistas andaluzos ( Paco Cañizares, Daniel Carrasco e Mercedes Alcántara) tiveram a passerelle por sua conta na tarde de sábado.
O intercâmbio prevê que a Portex Outono/Inverno esteja presente na próxima BELMODA 91 (Feira de Moda da Andaluzia) de 1 a 3 de Março com três criadores portugueses e também com as colecções dos dois primeiros prémios do concurso de jovens estilistas desta PORTEX. É assim que Mee Young (1º Prémio) e Nuno Gama (2º Prémio) se vêem justificadamente nomeados para dar a cara além-fronteiras. Mee Young esteve já anteriormente presente na FIL, onde participou no "4ºConcurso Novos Estilistas" da INTERMODA Outono /Inverno 90/91, e também no Forum Estudante, em Dezembro de 89, onde participou com "Espíritos de Malmequer". Agora a sua colecção inspira-se fortemente numa das tendências do Outono/Inverno 91/92: a saber, a Eco-Guerrilha - o espírito GreenPeace chega à moda através da consciência política da preservação do planeta. Mee Young colocou em passerelle - e ao som de "Riders on the Storm", dos Doors - uma imagem para os Novos Salteadores do Planeta Perdido, onde predominam as peças 'combate' numa silhueta do tipo segunda pele: casacos militares de combate, impermeáveis militares, calças de combate e de trabalho, parkas volumosos, coletes de caça, macacos coleantes. Os detalhes importantes estão nos bolsos (de fole), nos cordões, capuzes, ponchos, fivelas metálicas e zips.
Nuno Gama, estilista da Oficina da Moda desde 1989, ex-participante da 2ª edição da Artejo e da Moda Lisboa Ano I, obteve o 2º Prémio com uma colecção que encarna uma outra tendência - a Fim de Século - e propõe uma silhueta masculina mais moldada e afuselada, constituída prioritariamente por macacos inteiros e blusões de capuz orlados a pele.
Os novos estilistas constituem, aliás, a ponta de lança da PORTEX , que proporcionou aos novos valores um espaço próprio onde puderam expôr uma parte da sua colecção, lado a lado com os stands das 11 escolas de estilismo . Enquanto alguns stands exibiam videos das passagens das escolas e outros funcionavam como montra, o CITEX - com um espaço privilegiado (600 metros quadrados) - apostou pela segunda vez na exposição em stands individuais das colecções dos seus finalistas. Saídos desta escola que favorece a formação para a indústria , destacaram-se Lígia Reis (uma agressiva colecção no espírito B.D. futurista), Maria João Fonseca (sportswear espacial para futuras estações urbanas), Raquel Valente ( reviver a calma campestre com materiais tradicionais) e Lúcia David com roupa infantil cujo material eleito é o peluche . Também o Centro de Calçado (Guimarães) participou activamente neste gigante stand do CITEX, com sapatos e botas desenhados em sintonia com as colecções dos estilistas.
O show da feira levou à passerelle 13 marcas nacionais. As 19 manequins chegavam antes do meio-dia para enfiar as cabeleiras postiças, a grande inovação desta PORTEX. Trabalhavam ainda nos bastidores 13 aderecistas, Marcio Mitkay, que ripava as cabeleiras e fazia a maquilhagem, e a dupla Eduarda Abbondanza / Mário Matos Ribeiro operava na coordenação de moda, assistidos por Paula Bramão . O show repetia duas vezes por dia e a coreografia esteve a cargo de Isabel Branco, que, em sintonia com os coordenadores, conseguiu dar vida a uma passerelle de colecções pouco exigentes: Vadim (Maconde) perdeu força relativamente a outras edições; a Scottwool levou o 3º Prémio, o que não foi nada mau atendendo à banalidade da colecção; Nuno Morgado, que conseguiu o 2º Prémio de Design, não está na sua melhor forma; e LindaForma viu os seus esforços de evolução gratificados por um 1º Prémio. A Eccetera Uomo obteve o 1º prémio para Design Masculino.
A passagem decorreu sob o signo de Cole Porter, tendo como banda sonora uma óptima selecção de "Red , Hot & Blue". O final do espectáculo culminou com um poderoso "I've got you under my skin", na versão de Neneh Cherry : apagadas as luzes , cinco figuras negras e encapuçadas apareceram de costas voltadas para o público; os restantes manequins surgiram seguidamente, em grupo, com grandes corações presos em correntes (bijutaria Pedro Cruz/Luís Moreira). De coração ao peito, encerrou mais esta edição de uma feira cujo maior desejo continua a ser o de alcançar credibilidade internacional.»
Cristina DUARTE na INTERMODA Outono /Inverno 90/91 [Publicado no Jornal Se7e)
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