Em cima, atleta da ginástica rítmica de SAD (15º Torneio da Páscoa).
escrita olhares perspectivas críticas ensaios artes género feminismos sociologia moda
31.3.14
29.3.14
25.3.14
22.3.14
Uma semana em cheio
Delphine Gardey estará dia 28 na sala polivalente do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, no Seminário de História, pelas 15h, para uma outra conferência «Do politics have artifacts? une histoire matérielle et sociale de l'Assemblée Nationale, France (1789-1940)».
20.3.14
XISTO: MAGNÓLIA
XISTO: MAGNÓLIA: A magnólia de folha caduca ( Magnolia liliflora ) já começou a florir no patamar central dos Jardins do Xisto, delicada e...
12.3.14
Por que lutam as mulheres?
“25 de Abril: o virar da página”
são as palavras a vermelho na capa da revista Flama de 3 de Maio de 1974. Na
imagem da capa um chaimite com dois soldados rodeados por uma multidão de
homens e onde se conseguem ver duas mulheres. A revolução tinha acontecido nem
há uma semana e, embora as mulheres tenham sido protagonistas na rua desde as
primeiras horas, a verdade é que essa imagem de capa não o reflecte.
Folheia-se a revista e na página
36 um artigo retirado de The Saturday
Evening Post/The Curtis Publishing Company com o título «Porque lutam as
Mulheres»? começa assim Depois de uma
vida a investigar, em profundidade, a psicologia feminina, Sigmund Freud
escreveu esta pergunta angustiada no seu diário: «Meu Deus, mas que quererão as
mulheres?» A resposta feminista é a seguinte: «Por Deus, elas querem
liberdade!» … A supremacia masculina é o facto mais óbvio e dominante da nossa
sociedade. Todas as nossas instituições sociais de onde emana poder, e todas as
que guiam acções e opinião, são dominadas pelo homem. O Governo, as Forças
Armadas, os tribunais, os sindicatos, as igrejas, as universidades, as
comunicações, a banca, a produção, os meios de transporte, enfim, todas as mais
significativas profissões se encontram sob a orientação masculina. O homem toma
as decisões cruciais na sociedade.”(1)
À falta de melhor e de algo sobre
a situação das mulheres em Portugal, o artigo continua analisando a sociedade
norte americana. Na altura, os movimentos de mulheres em
Portugal eram incipientes ou inexistentes, depois da sangria feita pelo
fascismo de que recordo aqui a extinção compulsiva do Conselho Nacional das
Mulheres Portuguesas, na sequência de uma grande exposição de livros escritos
por mulheres em 1948. A publicação,também nesse ano,de “As Mulheres do meu País”
de Maria Lamas, foi o oásis num deserto de direitos e representação,
desocultando e visibilizando as mulheres concretas e esquecidas deste nosso
triste país.
Só em 1975, pela primeira vez, as
mulheres portuguesas comemoraram o dia 8 de Março – Dia Internacional da Mulher
– em liberdade. Longe ia o ano – 1910 – em que Clara Zetkin fizera aprovar uma
proposta de que se comemorasse a nível internacional um dia para lembrar a
situação particular das mulheres na sociedade… Mas ainda antes do primeiro 8 de
Março de 1975, um grupo de feministas portuguesas do MLMousara afrontar o poder
patriarcal e os seus símbolos, num 13 de Janeiro de 1975 de que há um registo
elucidativo (2) do que então aconteceu!
A luta das mulheres em todo o
mundo e em Portugal não tem sido um passeio pela avenida! Tem sido o resultado
de muita luta, muita convicção e muita persistência para afrontar a sociedade
que está organizada e estruturada de uma forma desequilibrada e anacrónica, que
corresponde aos interesses do patriarcado e do capitalismo. É contra isso que
as mulheres se têm batido individualmente e nas suas organizações, sendo todo o
século XX um período de enormes transformações sociais, políticas, económicas,
culturais e de mentalidades. As leis têm-se feito debaixo dessa pressão enorme
da luta das mulheres e de muitos aliados, mas também sabemos como tantas vezes
as leis existem e não são regulamentadas ou não são postas em prática! E
sabemos como houve leis que não avançaram durante tantos anos porque tocavam no
âmago da sociedade patriarcal e estilhaçavam a imagem e o papel que o
patriarcado destina às mulheres: frágeis, submissas, cuidadoras, atentas,
recatadas, disponíveis, discretas, caladas, sofredoras… Foram as leis de
protecção às mulheres vítimas de violência, as leis da paridade e a lei de
descriminalização do aborto, que só conseguiram ver a luz do dia três décadas
depois do 25 de Abril! Outros temas estão aí a exigir medidas e intervenção do
Estado como a mutilação genital feminina, o assédio sexual, o tráfico…
40 anos depois do 25 Abril
podemos dizer que se fez uma enorme caminhada e que muito já foi alcançado, mas
para os/as que acham que comemorar um Dia Internacional da Mulher já não faz
sentido, lembramos a justeza e a pertinência de dar visibilidade às lutas das
mulheres pela igualdade, enquanto persistir todo e qualquer sinal de
discriminação e de atropelo aos direitos, tratando de modo desigual uma parte
da humanidade, em função do seu sexo. Nunca é demais lembrar a violência de
género e a sua forma extrema, o femicídio, as discriminações no trabalho, a
precariedade, o trabalho sem direitos, as diferenças salariais em função do
sexo que em Portugal aumentaram quase 70% em cinco anos, a dificuldade em
atingir a paridade baseada na menorização, na maternidade, ou em tectos de
vidro intransponíveis, o sexismo na linguagem, nos media, no dia-a-dia, as
mudanças no rumo da vida resultantes do desemprego, tantas vezes provocando uma
amputação nas aspirações e nos projectos de vida e talentos que são truncados.
Associado à austeridade intensa e
permanente a que a troika e os partidos do governo vêm sujeitando o povo
português, com consequências que se traduzem em recuos de décadas na
organização social e, em primeiro lugar, na vida das mulheres, o
conservadorismo está aí e as mulheres são o alvo a abater. A culpabilização do
aborto através da aplicação de taxas moderadoras e o fim das licenças de
parentalidade pagas a 100% pela Segurança Social depois de um aborto,como
recentemente foi aprovado numa moção do Congresso do PSD, ou a associação do
direito à interrupção da gravidez à quebra da taxa de natalidade por parte dos
sectores mais fundamentalistas na nossa sociedade são os sinais da perigosa
onda que varre a Europa e que no Estado Espanhol está a levar milhares de pessoas
e mulheres espanholas a repudiar a lei Gallardon que é um recuo brutal nos seus
direitos sexuais e reprodutivos.A recente iniciativa por parte do grupo
parlamentar do PSD de interromper um processo legislativo que estava a decorrer
relativamente à co-adopção por parte de casais do mesmo sexo, criando um
episódio grotesco de propor um referendo sobre adopção eco-adopção por parte de
casais homossexuais, foi mais um episódio desse conservadorismo neste caso
dirigido aos casais e às famílias LGBT. E por último, a mesma pessoa que mandou
as nossas jovens e os nossos jovens emigrar – Passos Coelho, primeiro-ministro
de um país chamado Portugal – anunciou a criação de uma comissão para estudar e
propor políticas de promoção da natalidade! Ofensivo e repugnante é no mínimo o
que se pode dizer sobre isto!
Volto ao princípio: por que lutam
as mulheres?
Se o que as mulheres conseguiram alcançar foi
fruto da luta, os riscos de perder direitos e de recuar décadas é enorme nesta
época de austeritarismo e conservadorismo. Hoje mais do que nunca a mobilização
e a resistência contra estas medidas tornam a comemoração do Dia Internacional
da Mulher tão actual e pertinente. As mulheres querem viver e ser protagonistas
num mundo de igualdade, liberdade, justiça, solidariedade, e paz.
(1) «FLAMA»,
nº 1365, Ano XXX, 3 de Maio de 1974
9.3.14
7.3.14
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