31.5.07

«A Menina e a Loba»

«Era uma vez, uma menina do Norte que tinha seis anos e gostava muito de cães.
Ela era teimosa e um bocadinho desobediente.
Perto da aldeia onde vivia havia uma floresta rodeada de lobos, e os homens da aldeia diziam aos filhos para não irem para lá. A menina e os primos pensavam que os pais exageravam e queriam ver o que havia na floresta.
A menina atreveu-se a ir um dia à floresta e perdeu-se.
Anoiteceu e ela começou a ficar com tanto frio que não se conseguia mexer. Ouviu uns passinhos, viu que era um cão grande e por isso não teve medo. O cão aproximou-se e com o seu bafo quente aqueceu a menina.
Os caçadores andaram toda a noite à procura da menina com espingardas e tochas mas não a encontraram.
A lua foi-se embora e ficou dia.
O cão de manhã foi-se embora devagarinho para não acordar a menina.
Os caçadores encontraram a menina que acordou e contou-lhes a história. Um cão grande e muito meigo tinha-a salvo, mas os caçadores perceberam que era uma loba.
Agora a menina tem quinze anos e às vezes aproxima-se da floresta e senta-se numa pedra a pensar naquela noite que foi a mais importante da vida dela.»


Maria C., 9 anos
Aluna do 3º ano do 1º ciclo.

Na fotografia, vemos a autora num momento da sua infância, quando ainda não escrevia os fantásticos contos que hoje assina, e cuja publicação A Cidade das Mulheres se orgulha de iniciar no Dia Mundial da Criança. Para quem gostar do tema abordado nesta história infantil, sugere-se aqui um livro sobre a essência da alma feminina: «Mulheres que correm com os lobos» da psicóloga Clarissa Pinkola Estés.
A Cidade das Mulheres informa ainda que, em 1950, a Federação Democrática Internacional das Mulheres propôs às Nações Unidas que fosse criado um dia dedicado às crianças de todo o Mundo. Os Estados Membros das Nações Unidas (ONU) propuseram este dia 1 de Junho como o Dia Mundial da Criança, reconhecendo que, independentemente da raça, cor, sexo, religião e origem nacional ou social, todas as crianças necessitam de cuidados e atenções especiais. A propósito do Dia Mundial da Criança, a Associação de Mulheres Contra a Violência (AMCV), reconhecendo a responsabilidade de toda a sociedade na protecção das crianças, associa-se a este dia através de várias iniciativas, entre as quais uma conferência de imprensa entre as 11h00 e as 13h00 na Sala Casablanca do Hotel Marriott (Avenida dos Combatentes, 45), em Lisboa. Tendo em conta o Art. 19º da Convenção dos Direitos da Criança, esta associação apela ao Estado Português que tudo faça para proteger as crianças contra todas as formas de maus tratos e estabeleça programas sociais para a prevenção dos abusos e apoio às vítimas. Constituída em 1993, a AMCV é uma organização não governamental (ONG), independente, laica e sem fins lucrativos, cuja missão é questionar e desafiar as atitudes, crenças e padrões culturais que perpetuam e legitimam a violência contra as Mulheres, Crianças e Jovens.

A mulher em Roma

Roma é uma sociedade ancestralmente patriarcal. À cabeça de cada grupo estava um pater familias que exercia o seu poder até à morte, podendo decidir da vida ou morte dos seus filhos.
Pelo casamento, a mulher passava a depender da família do marido, ficando submetida a um poder familiar semelhante ao que tinha em casa antes do matrimónio, pois o esposo podia também decidir da sua vida.
No entanto, com o crescimento de Roma, a mulher foi gradualmente adquirindo autonomia, podendo inclusivamente participar da herança dos bens paternos, sendo sabido que, no século III a C., já havia muitas mulheres ricas, disfrutando do seu património. Muitas das alterações sofridas na sociedade romana devem-se às sucessivas guerras e aos longos períodos de ausência dos maridos, fruto do expansionismo romano, que permitiu a ascensão do papel da mulher.
No entanto, a generalidade das meninas romanas recebia apenas uma instrução básica, pois a sua função primordial era prepararem-se para ser esposas e mães, apesar de ter havido exemplos de mulheres que exerceram influentes profissões ou que dirigiram negócios lucrativos.
Até determinada altura, a toga era o elemento básico do vestuário, quer feminino, quer masculino. Todavia, ele foi-se sofisticando e, já durante a República, só os jovens e as cortesãs usam toga. As matronas utilizavam sobre a stola (túnica ou vestido comprido) a palla (grande mantilha pregueada que, ao contrário da toga, cobria os dois ombros).
As mulheres de condição mais elevada usavam tecidos ricos e importados das várias partes do império e jóias.
O rosto era embelezado e os cabelos tratados e penteados de diferentes formas, também dependendo das épocas e respectivas modas, se bem que em público tivessem o costume de cobrir a cabeça.

Mulheres ao luar

29.5.07

Leitura II

O lançamento do livro «Mulheres que lêem são perigosas», da Quetzal Editores, terá lugar no dia 31 de Maio, pelas 18h 30, na Livraria Bertrand do C.C. Picoas Plaza, em Lisboa.
Quatro mulheres - Helena Vasconcelos, Maria João Seixas, Maria Teresa Horta, Paula Moura Pinheiro - foram convidadas a escolher uma das imagens do livro e apresentá-la publicamente. O livro serviu para reunir uma colecção de esboços, pinturas, fotografias que, do século XIII ao século XXI, representam diferentes mulheres num momento de leitura. É uma homenagem ao poder libertador da leitura e ao mesmo tempo uma reflexão acerca do papel que esta desempenha ao longo dos tempos na história da emancipação feminina. É também um tributo à estreita relação que existe entre as mulheres e os livros.
Em «Mulheres que lêem são perigosas» Stefan Bollmann (n.1958, Colónia) parte da Anunciação (1333), de Simone Martini, em que Maria exprime desagrado quando o anjo interrompe a sua leitura, revisita Rembrandt, Vermeer, Fragonard, Matisse, Heckel e Hopper, e conclui a sua viagem com a célebre fotografia de Eve Arnold, onde Marilyn Monroe lê «Ulisses» de James Joyce. Estas mulheres são o retrato de uma época.
Escritor e editor de livros em Munique, Stefan Bollmann estudou Germânicas, Teatro, História e Filosofia, sendo um dos mais conceituados especialistas mundiais em Thomas Mann.
O prefácio deste livro é escrito por Elke Heidenreich (n.1943, Colónia), uma das escritoras, jornalistas e críticas literárias mais famosas da Alemanha. Escreveu vários bestsellers, publicou antologias de contos, trabalhando como autora e moderadora de conteúdos para a rádio e para a televisão. Desde 1983 assina uma coluna na revista feminina «Brigitte». Desde 2003 que trabalha como moderadora de um bem-sucedido programa televisivo chamado Lesen!, no canal ZDF. A seguinte passagem é retirada do seu prefácio em «Mulheres que lêem são perigosas»: «Desde há vários anos que colecciono imagens de mulheres que lêem, uma delas está pendurada em cima do sofá onde eu própria me sento a ler. É uma pintura de Harald Metzkes e mostra o que, quanto a mim, é uma jovem mulher que lê como se disso dependesse a sua vida. Está sentada junto à janela, lá fora já a noite caiu há muito, mas uma estreita faixa no horizonte surge reveladora: está novamente o dia a clarear. Estou ali sentada e leio: sou eu mesma».

Leitura I




A importância da leitura para o desenvolvimento harmonioso da infância estará em foco na próxima quinta-feira, dia 31 de Maio, entre as 14h30 e as 17h00 no Auditório 1 da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. A iniciativa pertence à FCSH e ao Instituto de Apoio à Criança (IAC), com o patrocínio da Estrutura de Missão do Ano Europeu da Igualdade para todos. Bela iniciativa na véspera do Dia Mundial da Criança.

28.5.07


Emigração III

Hoje, dia 28 de Maio, no Instituto Franco-Português é a última de uma série de três noites (à segunda) de filmes e debates subordinadas ao tema «A emigração portuguesa em França». Na Avenida Luís Bívar 91, a partir das 19h, estarão o fotógrafo Carlos Casteleira (explora com a fotografia os meios portugueses e cabo-verdianos da Provença e observa as memórias individuais e colectivas, empreendendo viagens a Cabo Verde, Brasil e Moçambique; ensina fotografia na Escola Superior de Arte de Aix-en-Provence), a historiadora Marie-Christine Volovitch-Tavarès (especialista em história da emigração portuguesa em França, tem publicado vários artigos e participado em colóquios sobre o tema tanto em França, comoem Portugal. Membro do Comité de História do Museu da Cité Nationale de l'Histoire de l'Immigration/CNHI, em Paris, é autora de « Portugais à Champigny, le temps des baraques », éd. Autrement, Paris,1995); e o realizador José Vieira (nascido em Portugal, ele chegou a França nos anos 60, nunca mais tendo regressado em Portugal; desde 1985 realizou uma trintena de documentários, nomeadamente para a France 2, France 3 e Arte, tendo se dedicado muito ao estudo da história dos emigrantes portugueses e em particular à história da sua família; editou Gens du Salto, uma série de sete filmes que traçam a história do
«Salto», a história de aldeias que se esvaziaram no segredo e no medo.
19h: Ser e Estar
Imagens da comunidade portuguesa em França. Projecção de fotografias de Carlos Casteleira, comentadas pelo artista.
21h: A Fotografia rasgada
Documentário de José Vieira, 2001, 52'.
No início dos anos 60 milhares de portugueses chegam clandestinamente a França. É o «Salto», o salto para o desconhecido, a emigração clandestina para fugir ao Portugal de Salazar. Actos de resistência e desobediência, onde alguns deixaram a vida. Por vezes, a polícia disparava sobre eles como sobre prisioneiros em fuga. Odisseias esfumadas nas memórias e recolhidas neste documento único.
22h.30 : O Pais aonde nunca se regressa
Documentário de José Vieira, 2006, 52’.
«Partir, devenir, revenir, voilà le rêve de tout immigrant». Mas com o tempo, este sonho dilui-se num novo quadro de vida. Quando o dia do regresso se aproxima, uma segunda ruptura surge - a da readaptação ao país de origem, diferente, transformado, diferente daquele que se deixa.
As projecções serão seguidas de debates, com Marie-Christine Volovitch-Tavarès, Carlos Casteleira e José Vieira.
Ainda esta semana no Instituto, Quinta-feira, 31 de Maio 2007, pelas 18h30, celebra-se o 150º aniversario da publicação de «Les Fleurs du Mal» de Charles Baudelaire, com uma Leitura encenada por Manuela de Freitas e Jean-Pierre Tailhade.

26.5.07

Siouxsie

Aniversário de Siouxsie Sioux dia 27 de Maio, quando cumpre 50 anos. Aqui está um video para apagarmos as velas à cantora que é uma das mulheres mais marcantes do planeta punk-rock. No video, Siouxsie & The Banshees, «Happy House»

25.5.07

Uma questão de direitos humanos

Assinala-se hoje pela primeira vez em Portugal o Dia Internacional das Crianças Desaparecidas.
Das cerca de 3500 chamadas telefónicas recebidas por ano, pelo Instituto de Apoio à Criança (IAC), cerca de 35 estão relacionadas com desaparecimentos.
Para consulta e relação entre factos, ligue aos sítios de internet do instituto acima referido, e da Amnistia Internacional. Entre os factos que há a relacionar, está o tráfico de pessoas: dois milhões de pessoas são traficadas todos os anos, a maioria são mulheres e raparigas. O programa Sociedade Civil dedicou o seu espaço na Rtp 2 ao Dia das crianças desaparecidas, e vale a pena (re)vê-lo.
Foto: Cristina L.Duarte

Mulheres e sufragismo

Hoje, dia 25 de Maio, pelas 17h00, o Mestrado em Estudos Sobre as Mulheres da Universidade Aberta (Rua da Escola Politécnica, 147, Lisboa) apresenta no Salão Nobre a Conferência «Movimento Feminista e Sufragismo em Portugal» pelo Mestre João Esteves, do Centro de Estudos Faces de Eva (FCSH/Universidade Nova de Lisboa).
Na fotografia: a 5 de Outubro de 1910, o apoio popular à luta armada inclui a presença das mulheres nas barricadas. [fotos de Benoliel (não autenticadas), espólio da Frenesi]

24.5.07

A voz... do jazz

Canta hoje e amanhã no Maxime a Maria João - cuja voz conhecemos como «a do jazz», mesmo que ela não cante «só» jazz. Ela irá apresentar o seu recente trabalho «João», acompanhada por Mário Delgado, na guitarra, Demian Cabaud, no contrabaixo, Alexandre Frazão, na bateria, e Eleonor Picas, na harpa. As canções interpretadas por João são todas da autoria de compositores brasileiros.
A fotografia é de Rita Carmo, realizada no âmbito do seu projecto «Portugal XXI», que engloba 21 retratos de artistas.

A boneca

A Cidade das Mulheres agradece ao Ultraperiférico um espaço que lhe é hoje ali dedicado. A fotografia que aqui é publicada em simultâneo é da autoria de Hans Bellmer, datada de 1935. As questões seguintes, temas de reflexão lançados por aquele blogue, são de hoje: «A tendência paritária homem/mulher é sobretudo um instrumento de equidade e de justiça social, em rotura com o passado dominado por homens, ou poderá constituir uma revolução civilizacional? Dito de outro modo: Um maior contributo das mulheres na vida pública pode transformar o mundo, torná-lo melhor?»
Hans Bellmer (1902-1975), Alemanha/França> La Poupée, c. 1935 (fonte: Dolls of Hans Bellmer)

23.5.07

Poesia na cidade

Será apresentado no dia 25 de Maio, na Casa Fernando Pessoa, «Um poema para Fiama», pelas 18h30 (R.Coelho da Rocha, nº16 - Lisboa), com apresentação de Maria do Sameiro Barroso e Maria Teresa Dias Furtado, coordenadoras da obra editada pela Labirinto.
A Cidade das Mulheres seleccionou este poema para si.
Amar o mar completa a minha vida
com o tacto de um amor imenso.
Amar areia e margem
arrebata-me de júbilo e paixão.
Mas veio o vento e, por momentos,
amargurou o meu corpo, a oscilar.
E está o sol aqui, depois de uns dias
de jardim obscurecido, a beber sombra.
E sei que os átomos zumbem
e dançam como os insectos
ébrios em redor do pólen.

Fiama Hasse Pais Brandão, «Da Terra», in As Fábulas

22.5.07

Paz, Europa e Género

Irá realizar-se dia 24 de Maio, em Haia, cidade da justiça e da paz, na Holanda, o evento «Girls Challenging Violence»/ International Women's Day for Disarmament and Peace 2007, no Museum voor Communicatie (Zeestraat 82; info@muscom.nl; http://www.muscom.nl/), com início pelas 15:30, a terminar pelas 18.30, de entrada livre (Mais informação em http://www.unoy.org/ and http://www.ifor.org/WPP).
Em cooperação com a United Network of Young Peacebuilders (UNOY), o WPP organiza este «Raparigas contra a violência», cujo programa inclui teatro, instalações de video arte, comédia stand-up, e espectáculo musical com uma jovem MC e VJ. O objectivo global é envolver o máximo de jovens, para a discussão sobre a violência. Os jornais fazem reportagens quotidianas sobre conflitos de guerra internacionais, mas a violência chega às raparigas também na sua vida de todos os dias: no espaço privado e público, nas relações humanas. Recentemente, os media holandeses escreveram sobre o crescente número de raparigas a quem é dificil recusar fazer sexo com o namorado. Todo o programa de dia 24 irá estar focado neste tipo de violência e no modo como as raparigas o enfrentam.
No domingo passado, Utrecht, na Holanda foi também palco de uma marcha contra a violência: Women's march against violence and sexism.

Na sexta, 25 Maio, pelas 19h, em Bruxelas (Amazone, Middaglijnstraat 10, 10 Rue du Méridien) a filósofa e investigadora da Universidade da California, Berkeley, Judith Butler, autora de Trouble Gender e Undoing Gender, entre outras obras, irá apresentar uma conferência, a seguir por quem esteja nessa cidade, « Sexual politics and the limits of secular discourse » .

Artistas Mulheres - Três Vozes

Parte IV
A experiência das mulheres e a sua posição na sociedade enquanto artistas, difere da experiência dos homens, tanto pelas qualidades formais como expressivas, decorrentes do carácter particular da experiência feminina e dos papéis de género. A produção artística das mulheres, unidas com um propósito, e determinadas em dar forma a uma consciência colectiva da experiência feminina, merece ser estilisticamente reconhecida como arte, senão feminista, certamente feminina.

«O exemplo dos instrumentistas mostra (...) como o hábito não reside nem no pensamento nem no corpo objectivo, mas no corpo como mediador do mundo. (...) a música existe por si e é por ela que tudo o resto existe. (...) o corpo é eminentemente um espaço expressivo.» ( in Merleau-Ponty, Phénoménologie de la perception, «Tel», Gallimard, 1983, p. 169-171).

Quando escrevo, quase sempre o faço ao som dos Madredeus e da voz de Maria Teresa Salgueiro. Já é assim há muito tempo. Pode mesmo não ser sempre, mas muitas vezes cumpre-se esta linha programática sonora-ambiental. Os Madredeus vão bem com escrita, logo com texto, com paisagens interiores que cruzam memória, viagem, experiência, conhecimento e antecipação do Outro. Vejo a presença de Teresa Salgueiro em palco como uma mulher sózinha, livre, que desenvolve duetos imaginários com a sua sombra, esperando que alguém compreenda o seu apelo de amor, de paz, de fraternidade, de quimeras atlânticas, de noites saudosas. A música desenha algo que foi uma vez descrito por Pedro Ayres de Magalhães como a coreografia da espera. Interpretada por uma mulher, a música do grupo é tocada por esse mundo fora desde o final da década de 80. Mas terá a música género? O palco será como a vida? A caracterização da personagem feminina em cima de um palco obedece a um certo libreto, que é aquele que a sociedade deseja encontrar numa representação. O modo de cantar solístico dá um corpo à música. Quando composta para uma mulher, a música sugere um solo que alia teatro a musicalidade para transmitir um sentimento, através da criação de um texto perceptível.
Em 1995, um livro condensava nestas palavras a personalidade artística da cantora: «A participação de Maria Teresa Salgueiro no projecto, a atracção dos músicos pela simplicidade e despojamento com que ela se entregava à função de cantar e interpretar com grande expressão aquelas melodias, e a pequena comunidade sentimental que desde então se começou a gerar entre os cinco vieram precipitar o desenrolar dos acontecimentos.» (in Jorge P.Pires, Madredeus – Um Futuro Maior, Temas e Debates, Lisboa, 1995).
O grupo encontrou a sua cantora no final de 1986. Com uma formação para voz, guitarra clássica (Pedro Ayres Magalhães), teclados (Rodrigo Leão), acordeão (Gabriel Gomes) e violoncelo (Francisco Ribeiro), os ensaios davam a conhecer a um jovem público urbano constituído por amigos e conhecidos uma música nova que nascia no interior de uma oficina artística, de ambiente por vezes medievelista, outras vezes romântico-lírico, outras popular-tradicional. Fez-se uma voz, colectiva, que foi crescendo, num anseio de «ter a fotografia de toda a humanidade», como diz a letra da canção «Anseio (Fuga Apressada)», do disco Movimento (Emi-VC, 2001). (Continua – Parte III 10.05.07; Parte II 2.05.07; Parte I 18.04.07)

20.5.07

Emigração II

Muitos cineastas são inspirados pelas migrações e pelo tema da diáspora, mesmo que seja através dos fenómenos das descolonizações, revoluções, catástrofes naturais, ou da pobreza: Charlie Chaplin (O Emigrante, EUA, 1917), Elia Kazan (América, América, EUA,1963), Robert M. Young (Alambrista!, EUA, 1977), Christophe Ruggia (Le gone du Chaâba, França, 1998), Laïla Marrakchi (L’Horizon perdu, Marrocos, 2000), Michael Winterbottom (In this world, Grã-Bretanha, 2002), para mencionar apenas alguns.
Em Lisboa, o Instituto Franco-Português irá exibir na sessão de Segunda-feira, 21 de Maio dois grandes filmes de ficção, realizados com intervalo de 30 anos.
19h: Ganhar a vida, ficção, de João Canijo, drama, 2001, 115 min.
Com Rita Blanco, Adriano Luz, Teresa Madruga, Alda Gomes, Olivier Leite, Luís Rego Competição oficial «Un certain regard», Festival de Cannes, 2001.
Numa noite de Inverno, num bairro dos arredores de Paris, Álvaro, morreu um adolescente, vítima de erro policial, num confronto entre jovens e forças da autoridade que acabou mal. Cidália, a mãe de Álvaro, decidiu travar um combate: quebrar a lei do silêncio na sua comunidade - a dos portugueses radicados em França, uma irmandade bastante discreta, que não está habituada a que falem nela.
22h: O Salto, ficção, de Christian de Chalonge, drama, 1967, 88 min.
Não conseguindo suportar mais a miséria que grassa no seu país, António, um marceneiro português, decidiu à semelhança de muitos dos seus compatriotas, tentar a sua sorte no estrangeiro. Vivamente incentivado pela carta que recebeu de Paris do seu amigo Carlos, deixou Portugal, em plena guerra colonial, e foi trabalhar para França. Um filme emblemático e político, realizado antes do 25 de Abril.

Também no dia 21 de Maio, o tema das migrações será abordado no seminário «Gender, Migration and Citizenship» com Evangelia Tastsoglou, organizado pelo SociNova, que decorrerá às 18h30, na Universidade Nova de Lisboa (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Av.Berna, 26-C - na sala T14, piso 3, Torre B ).

No âmbito do Fórum de Educação para a Cidadania destaca-se pelas 15h00, na Fundação Calouste Gulbenkian (Av.Berna, 45-A), a conferência de Alice Berkeley sobre o projecto «Continyou - Building Leaning Communities». Centrado no conceito de community schools, o projecto é hoje uma referência para o sistema educativo no Reino Unido, onde deverá ser implementado em todas as escolas até 2010, dele fazendo parte integrante a educação para a cidadania. Haverá tradução simultânea.

18.5.07

Educação sexual

As Jornadas de Educação Sexual levam hoje a conversa até ao Instituto Superior Politécnico Gaya, na Rua António Rodrigues da Rocha, nº 291, em Vila Nova de Gaia, às 21h30. Vários oradores e oradoras debatem esse tema fundamental que é a educação sexual nas escolas.

M u s e u s

Este ano, as Manobras de Maio vão inundar de moda o largo exterior ao Museu Nacional de Arte Antiga, onde se encontra «O Brilho das Imagens», uma exposição que está a encantar os visitantes. As Manobras desaguam assim no Largo José de Figueiredo, no Sábado dia 19 de Maio, com intervenções que decorrerão entre as 18H e as 20H, hora a que começa a música no jardim, com DJ. E já agora, aproveite-se a NOITE DOS MUSEUS. O Museu Nacional de Etnologia, por exemplo, promete festa até às quatro da manhã. Sobre este convívio um pouco por todo o mundo musealizado na noite de 19 de Maio consultar o sítio de cada museu na grande rede, ou o Instituto Português de Museus.
«Museus e Património Universal» é o tema que o ICOM – Conselho Internacional de Museus propõe este ano para as celebrações do 18 Maio, Dia Internacional dos Museus. Se hoje estiver perto de Santiago do Cacém, Alentejo, há uma reunião pelas 16h no Centro Interpretativo de Miróbriga, com eventuais apoiantes da criação da «Liga de Amigos de Miróbriga». O sítio arqueológico é constituído por ruínas romanas, cuja cronologia data da Idade do Ferro, séculos II a.C-V.
Qualquer dia é bom para uma visita ao museu. E há-os para todos os gostos. A Cidade das Mulheres tem uma especial predilecção pelo Museu Nacional do Traje e da Moda, onde começa hoje uma prometedora programação designada «E África aqui tão perto» que, para além de exposições, oficinas para as escolas e famílias, feiras, e conversas de final de tarde, apresentará cinema documental e música, até ao próximo dia 27 de Maio. Para já não falar das duas exposições inauguradas ali há uma semana atrás: «100% Bronze - O corpo e o traje» (colectiva de escultura), e «Relíquias de Amor», uma preciosa recolha de objectos das mulheres da família do pintor surrealista Cruzeiro Seixas, uma «exposição de prendas que são rosas do pintor dedicadas às mulheres que o amaram», como escreve Madalena Braz Teixeira, a directora do museu.



17.5.07

16.5.07

http://www.nuclearcentury.com/ - Glitter Maker

Género e cinema

Começa hoje o Festival de Cannes, decorrendo até dia 27 deste mês. A presença portuguesa estará lá através de duas curtas-metragens - «China China» de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, e «Tarrafal» de Pedro Costa - e também através de um filme de três minutos de Manoel de Oliveira, que integra um trabalho colectivo de cineastas sobre o 60º aniversário de Cannes.
As duas curtas integram a secção oficial Quinzena dos Realizadores. «China China», com 17', estreou no IndieLisboa, em Abril Último, e retrata o quotidiano de uma jovem chinesa que vive no Martim Moniz e sonha com Nova Iorque. Um dos seus realizadores, JP Rodrigues, leva ainda a Cannes o seu projecto de longa-metragem «Morrer como um homem», que fará parte da secção Cinéfoundation. O filme, cuja rodagem só deverá ter início para o ano, é baseado na história de um travesti veterano dos espectáculo de drag queen de Lisboa.
Para outro género de programação, a Holanda oferece o Netherlands Transgender Film Festival, de 23 a 27 de Maio, realizado pela T-Image Foundation que produz eventos culturais e organizacionais para encorajar a visibilidade e as representações positivas de temas de transgénero.
A propósito da China e da mulher, deixo aqui uma sugestão de leitura de um artigo do NYT, sobre mulher e aborto. E sobre a nova lei da IVG em Portugal, que já entrou em vigor, o regulamento que permite a sua aplicação estará pronto amanhã. Sem regulamentação da lei não há hospital que aplique a «IVG a pedido». É o que dizem as notícias, que me importam salientar hoje aqui n' A Cidade das Mulheres.

O espelho - I

O tema principal para o dia de hoje é a comemoração de um ano deste blogue, cujo título é inteiramente inspirado numa alegoria destinada às mulheres, Cité des Dames, da autoria daquela que é considerada no Ocidente Euroupeu a primeira mulher a fazer da escrita a sua profissão. Christine de Pisan (1363-1430), uma poetisa de origem italiana apreciada na corte francesa, casou-se aos 15 anos e enviuvou aos 25 anos. Com poucos recursos e filhos para educar, sabe-se que meteu mãos à obra, como se costuma dizer, e recorreu à sua cultura e talento, aos livros herdados do pai ou emprestados, à protecção também de gente da corte francesa, assegurando desse modo a subsistência da família. Além da poesia, cultivou também a prosa e entre as suas obras contam-se ainda uma biografia de Carlos V, e o Livro das Três Virtudes («Razom/Dereitura/Justiça») um tratado de educação e arte de viver em sociedade, dirigido à princesa Margarida de Borgonha, neta de Filipe o Temerário, que casou em 1404 (o tratado ficou pronto na Primavera e ela casaria em Setembro) com Louys de Guienne, neto de Carlos V. O livro, organizado em três partes, foi dedicado não só a princesas, mas às demais mulheres do seu tempo: damas, donzelas, burguesas e mulheres do povo. Em Portugal, este livro foi mandado imprimir pela rainha D.Leonor, em 1518, recebendo o título de O espelho de Cristina, mas é ainda a rainha D.Isabel, entre 1447-1455, que manda fazer a primeira versão portuguesa, sobre apógrafo trazido, pensa-se, pelo seu pai, o infante D.Pedro, estando na Biblioteca Nacional de Madrid o único texto conhecido desse manuscrito.
Sobre Cristina de Pisano há esta bibliografia que aqui vos deixo, entre muita outra: Ivone Leal, Cristina de Pisano e Todo o Universo de Mulheres, CIDM, Lisboa, 1999; O Espelho de Cristina, edição fac-similada, BN, Lisboa, 1987; Christine de Pisan, The City of Ladies, Penguin Books, London, 2005 (na foto).
Sobre este tema, voltarei neste mês de comemoração. Para já quero agradecer às mulheres que colaboraram comigo ao longo deste ano de 2006/07, com fotografia ou texto, Eduarda Ferreira, Almerinda Bento, Rita Carmo, Filomena Barata, bem como a todas e a todos vós que me visitam nesta cidade :* até já!
Cristina L. Duarte

15.5.07

Famílias

No Dia Internacional das Famílias algumas ONG's aproveitam para relembrar que qualquer definição de família deve reflectir a diversidade de famílias existentes nas sociedades europeias. O número de mães adolescentes, as famílias mono-parentais e as famílias baseadas em uniões do mesmo sexo está em crescimento.
É assim ocasião de lembrar a União Europeia da necessidade de implementar o princípio da reunificação familiar e a liberdade de movimento da famílias dentro da UE sem discriminação.
O aumento das políticas restrictivas à reunificação familiar debilita o direito a uma vida familiar e tem um efeito prejudicial na integração dos imigrantes.
São as seguintes as organizações signatárias:

AGE – the European Older People’s Platform:
http://www.age-platform.org
European Disability Forum: http://www.edf-feph.org
European Network Against Racism: http://www.enar-eu.org/en
European Region of the International Lesbian and Gay Association:
http://www.ilga-europe.org/
European Women’s Lobby: http://www.womenlobby.org
European Youth Forum:
http://www.youthforum.org
The Platform of European Social NGOs: http://www.socialplatform.org

14.5.07

Faces de Eva

A revista Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher vai na sua 17ªedição, a ser apresentada na Casa Fernando Pessoa amanhã, dia 15 de Maio, 3ªfeira, pelas 18h30 (Rua Coelho da Rocha, 16-18 - a Campo de Ourique), com várias intervenções de homenagem a Ivone Leal e Natércia Freire.
Editada desde 1999, com direcção de Zília Osório de Castro, a revista desta unidade de investigação criada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa é editada pelas Edições Colibri. Naquele ano a capa mostrava uma fotografia de 1925 da bailarina Anna Pavlova, e o texto de apresentação assinado por Zília Osório de Castro começava por nos apresentar o projecto: «Pela primeira vez Faces de Eva mostra a sua face... sorridente e ao mesmo tempo séria, umas vezes leve outras profunda, variada sem esquecer a unidade, olhando o passado e projectando o futuro, com os olhos postos nas estrelas e os pés caminhando na terra dura das realidades. Situa-se na vida que se vive realçando as mutações que a temporalidade, expressão dessa mesma vida, imprime no carácter específico dos seres humanos, enriquecendo com os valores da vivência as potencialidades da existência. Procura mostrar que ser mulher significa viver como tal, na plenitude da sua humanidade, ou seja, na plenitude do exercício dos direitos que lhe pertencem e ocupando os lugares compatíveis com as suas capacidades. A lógica deste raciocínio (...) subjaz aos objectivos das Faces de Eva
Hoje como ontem, o mesmo interesse: a reflexão sobre a(s) mulher(es), nas suas várias formas de intervir na sociedade e na cultura. De um auto-retrato feito por Ivone Leal na primeira revista, passamos agora para uma justa homenagem a esta investigadora de História das Mulheres, autora, por exemplo, de «Um século de periódicos femininos: arrolamento de periódicos entre 1807 e 1926», publicado pela CIDM em 1992.

Na fotografia: capa Faces de Eva, número 16, 2006, Dolores Ibárruri, destacada comunista espanhola, dita La Passionaria, Maio 1977, fotografada por Diego Goldberg.

12.5.07

«Má Fila» no Algarve

A terceira curta-metragem da U-hu Faz Misso!, «Má Fila», foi seleccionada para a Competição Internacional do 35º FICA - Festival Internacional de Cinema do Algarve.
Realizada por Chuenmenkin, o duo de realizadores composto por Francisco Antunez e Carlos Pedro Santana, esta curta conta com a participação de São José Correia, Peter Michael e Bruno Bravo. A banda sonora inclui temas originais compostos por Ikonoklasta, Verbal, Freddy Locks, Conductor e Sir Scratch. O filme será exibido na Terça-Feira 15 Maio às 23h (em simultâneo nos Cinemas Portimão, e nos Cinemas Cinatrium, em Faro). Haverá uma terceira exibição na Quarta-Feira 16 Maio às 22h no Auditório da FNAC, na Guia (Albufeira).

11.5.07

Rita

Parabéns!
Para ti, segue-se esta «Primavera» de Judith Teixeira.















Nos vinhedos, aloiram-se, distantes,
sob o orvalho cristalino,
os pâmpanos rosados,
e onduleiam-se num ritmo divino
os prados verdejantes
em tons esmeraldados...
E músicos estúrdios, os pardais,
andam a revolver-se na poeira doirada
a chilrear seus esponsais
desde os primeiros risos da alvorada!
Estua arfando a terra inteira
na seiva de miríades de vidas
rompendo - a desabrochar...
E o grande Semeador
que fez a sementeira,
também deu às pombas pretas doloridas,
o anseio sagrado
de noivar!
.......................................................................
E o meu coração,
o mago feiticeiro da melancolia,
esse nostálgico roussinol,
anda a ensaiar um hino de alegria,
- embriagado de sol!
Maio
1922





Emigração

Três noites de filmes e debates é o que o Instituto Franco-Português nos irá proporcionar nas segundas-feiras de 14, 21 e 28 de Maio, a partir das 19h00, com a presença de nomes da Antropologia e da História.
Com projecção de documentários, fotografias e debates, o Instituto Franco-Português dedica assim três dias da sua programação à Emigração Portuguesa em França, com a presença de vários convidados que participaram nos trabalhos apresentados ou que se têm dedicado ao estudo do tema: Pierre Primetens, realizador e coordenador do projecto de realização Immigration Portugaise en France, mémoire des lieux, bem como alguns jovens que participaram neste projecto, Irene Santos, etnóloga, Claudie Lebissonnais, coordenadora de produção, Fernando Paulouro Neves, jornalista e director do Jornal do Fundão, Marie-Christine Volovitch-Tavarès, historiadora, Carlos Casteleira, fotógrafo e José Vieira, realizador.
Segunda-feira, 14 de Maio de 2007, 19.00h, Immigration portugaise en France, mémoire des lieux (IFP, Rua Luís Bivar, 91 - Lisboa). Foto de Carlos Casteleira.

10.5.07

«Artistas Mulheres - Três Vozes»

Parte III

A ideia musical da voz de mulher começou por ser transposta para a arte por um compositor-homem, que caracterizou a figura feminina através de um estereótipo e de uma construção psicológica mais densa do que a masculina.
Podemos reflectir sobre a mulher no interior da realidade musico-dramática do século XIX, altura em que a sua crise surge exposta na ópera. Ao interesse pela ilusão, pelo bizarro, pela estranheza, do período Barroco, tinha se sucedido um interesse por uma certa veracidade. Ao nível teatral a mulher dá um momento significativo à verdade dramática, e entre os compositores Mozart será aquele que dá desenvolvimento notório à verdade dramática, com muita da sua música - árias, e solos operáticos – composta para mulheres.
Depois do período clássico, caminhamos para um enaltecimento das emoções, dos sentimentos, da ideia de «nuance», de subtileza, proveniente da literatura e que encontramos na música através do Romantismo. O fascínio do «Outro», o contacto com dimensões exóticas, o fascínio pelas terras distantes e pela viagem são outras notas comuns ao período Romântico. A vontade de contactar o outro Desconhecido inclui à época a mulher. Os compositores vão desenvolver a personagem feminina, que começa a ser a protagonista, nascendo assim a figura da diva – uma «figuração» ou representação da mulher, com pouco mais de cem anos - inicialmente ligada à ópera italiana. Há portanto a tentativa de caracterizar a mulher em cima do palco – e se aqui nos distanciarmos do libreto funcional da ópera, sempre que há uma mulher no palco temos de a caracterizar e de lhe atribuir um papel, seja este o da mulher angelical, ou o da mulher perigosa, ídilica, ou perversa, conciliadora, ou prepotente. O seu próprio corpo reflecte a ansiedade da sociedade, a sua inquietude, e a mulher, como mito, retrato histórico ou literário, submete-se a um juízo moral da sociedade, parte integrante do chamado «senso comum».
Se o poder de decisão da mulher é uma utopia no século XIX, o século seguinte foi o da emancipação, pelo menos relativamente a algumas questões – direitos de cidadania, da educação, da igualdade no trabalho, de controlo do corpo. (Continua - Parte II 2.05.07; Parte I 18.04.07)

neblina 11

O próximo livro de poesia de Maria do Sameiro Barroso «Amantes da Neblina» será lançado amanhã, sexta-feira, dia 11 de Maio, na Casa Fernando Pessoa (Rua Coelho da Rocha, n.º 16, Lisboa), pelas 18h30. A obra, com edição da Labirinto, será apresentada pela Professora Maria Teresa Dias Furtado, autora do prefácio, culminando a sessão com a leitura de poemas pela actriz Isabel Wolmar.
No mesmo dia 11, a curadora da exposição Beyond Material, Lous Martin, dá uma conferência sobre a moderna joalharia holandesa 1968-88, no ar.co (Rua de Santiago, 18), às 11h00.
Beyond Material inaugura dia 12 e estará patente até dia 6 de Julho na Galeria Reverso (Rua da Esperança, 59-61).
Ainda no dia 11, às 21h00, há teatro no Instituto Franco-Português, pelo Théâtre de la Fronde.
Alguém chamou a «Les Konkasseurs de Kakao» um hino aos prazeres do texto. O actor Jean-Marie Sirgue homenageia neste espectáculo o verbo e o prazer da língua francesa, com uma selecção de textos poéticos, engraçados, emocionantes, pontuados pelo acordeão de Serge Rigolet, criando um ambiente musical entre o tango e as melodias festivas.

7.5.07

Saúde, família e igualdade

A Associação para o Planeamento da Família (APF) completa 40 anos de existência em 2007, assinalando este ano com diversas actividades e iniciativas públicas comemorativas do seu aniversário.
Uma destas iniciativas vai realizar-se proximamente, entre os dias 10 e 12 de Maio – são as 12ªs Jornadas Nacionais da APF – no Fórum Lisboa.
Com o lema "40 Anos a Promover Saúde, Escolhas e Direitos pela Igualdade de Oportunidades" o programa científico destas Jornadas irá constituir um momento de grande interesse para profissionais de diversos sectores com especial destaque para os profissionais de saúde, bem como para estudantes e todos aqueles que se interessem pelas diversas temáticas e áreas de trabalho da APF.

Mulher, étc.

Inaugura em Barcelona dia 9 de Maio pelas 20h00, «Mulher, etcétera - Moda y mulher en las colecciones», uma exposição que narra como a moda influencia o feminino através da fotografia dos grandes autores. Não chega a ser uma mostra de fotografia de moda, ou uma mostra de fotografia de mulheres. As imagens desta exposição falam-nos de mulheres reais no interior das mulheres ícone e vice-versa, num jogo de espelhos ao serviço de quem as vê. Autores como Irving Penn, William Klein, Wolfgang Tillmans, Norman Parkinson, Cartier-Bresson, Frank Horvat ou Louise Dahl-Wolfe perseguem essa beleza ou essa identidade feminina, além da questão do género. Retratam a mulher e o seu mundo. Fotografam o seu etecetera.
Para a comissária da exposição, Lola Garrido «esta proposta pretende lembrar como mudámos, como os grandes mestres faziam arte, e como a fotografia de moda, que devia ser simplesmente comercial, se transformou na manifestação de ideais e aspirações que nos dias de hoje continuam vivos». A exposição habitará a Fundació Foto Colectania (Julián Romea, 6 D2) até 29 de Setembro de 2007, de Segunda-feira (à tarde) a Sábado, das 11 às 14h e das 17 às 20.30h.

Em cima: Lauren Bacall, fotografada por Louise Dahl-Wolfe.

4.5.07

m ã e
















Uma mulher a cantar
de cabelo despenteado.

(Era o tempo das gaivotas
mas o mar tinha secado.)

Pelos braços caíam
frutos maduros de outono,

pelas pernas escorriam
águas mortas de abandono.

(uma criança juntava
o cabelo destrançado.)

Gaivotas não as havia
e o mar tinha secado.

«Canção para minha mãe», Eugénio de Andrade


Fotografia de Maria Eduarda, Playa de los Muertos, Outubro de 2006 no sul de Espanha - reserva de Cabo da Gata.

Existir











O Prémio de Melhor Documentário no Festival Caminhos do Cinema Português, em Coimbra, Abril 2007, foi entregue a Graça Castanheira, por Logo Existo. O Grande Prémio do Festival coube a Teresa Villaverde por Transe.
O filme Brava Dança de Jorge Pereirinha Pires e José Francisco Pinheiro passou no dia 22 de Abril, colhendo também grande entusiasmo à volta do tema documental abordado: os anos 80, em Lisboa, à luz da banda Heróis do Mar. Sobre esta necessidade de construir a nossa memória urbana fala-nos e bem a associação Audiência Zero.

3.5.07

Liberdade de imprensa



Hoje, dia 3 de Maio, assinala-se o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Os profissionais dos média e os cidadãos em geral são chamados todos os dias a defender a liberdade de informação, pilar fundamental da democracia. É em prol dessa liberdade que A Cidade das Mulheres está na blogosfera. Para que a Europa seja representada como uma comunidade alargada de várias culturas/nações é essencial esta liberdade de imprensa, virada para a acção, ao serviço da cidadania responsável e paritária.

No próximo dia 6 de Maio, vamos estar com os olhos postos em França, esperando que Ségolène Royal possa conjugar esta liberdade na primeira pessoa. E nós com ela. Ou como dizia a campanha da primeira volta, «pour nous c'est elle». Para que alguma coisa mude na Europa, para melhor. Deplorável o discurso Sarkozy ao dizer ontem no frente-a-frente presidencial «a França não pode acolher toda a miséria do mundo». Isto foi apenas uma amostra (no caso sobre os «sans papiers») das várias afirmações que ele protagonizou no ano passado sobre imigração. A Europa não merece este candidato, pois não?

2.5.07

«Artistas Mulheres - Três Vozes»

Parte II
O conceito de voz e a consciência do feminino no próprio
trabalho artístico. Incorporação de um tempo esquecido. O
corpo expressivo.

Conceito fundamental na crítica feminista, «dar voz» ou «ter voz» é uma estratégia que se opõe ao silenciamento patriarcal que a história votou as mulheres, silêncio esse progressivamente rompido através dos movimentos feministas do século XX – de que foram precursoras no século XIX muitas mulheres que lutaram individual ou colectivamente pelo direito à instrução, pelo direito ao voto, entre outras lutas menos evidentes. É muito interessante o postulado de Adorno acerca da estética musical feminista (e no contexto da música de vanguarda de 1960), segundo o qual não haveria emancipação da mulher, sem uma emancipação da sociedade.
Julia Kristeva fala de uma linguagem inaudível das mulheres, o que segundo a autora reside no facto de elas não possuirem «nem poder nem um sistema linguístico» . Como se a linguagem das mulheres continuasse por criar (Sigrid Weigel, 1996).
A construção social de uma «voz» passa pelos vários campos artísticos, das artes plásticas à música. «Historicamente, a ausência da voz das mulheres na literatura passa em grande medida pelo modo como ao longo dos tempos sempre lhe foi dado menor acesso à educação e, portanto, desde logo à literacia. Por outro lado, como Virginia Woolf demonstrou num dos textos fundamentais do feminismo, A Room of One’s Own (1929), para além do analfabetismo, a situação social das mulheres ao longo dos tempos, devido à sua dependência económica, é uma das causas importantes da sua ausência do literário.» («Voz» in Dicionário da Crítica Feminista, Edições Afrontamento, Porto, 2005, p.194)
Para além da sua ligação com a teoria da escrita feminina, o conceito de voz no feminino entra igualmente em relação com outras expressões criativas levadas a cabo pela mulher, que precisa reclamar um espaço próprio para se fazer sentir. «Tal como Julia Kristeva, Luce Irigaray ou Monique Wittig, [Hélène] Cixous desenvolveu uma linguagem em que a voz tem a capacidade de evocar a mãe e o corpo materno como parte de um espaço linguístico eternamente presente, por oposição ao discurso falocêntrico lógico e unívoco.»
A critica feminista tem também dado relevo à importância da voz na reavaliação da identidade e do poder femininos. Para Susan Sniader Lanser, a autora de Fictions of Authority: Women Writers and Narrative Voice, «a voz narrativa no feminino, é um local de tensão ideológica tornado visível nas práticas textuais, no modo como desconstrói a hegemonia da voz autoral/autoridade masculinas». Na perspectiva de Susan Lanser «a voz feminina não é uma “essência”, mas, antes, uma posição subjectiva variável cujo «eu» é gramaticalmente feminino.» («Autoria», ibidem).
A voz é expressão de uma época. Expressão de uma individualidade própria, o timbre e a textura da voz revelam o lugar que esta própria ocupa num determinado tempo. No século XIX a voz é um elemento muito sedutor, sempre associada à ideia de uma mulher. É a voz que tem capacidade para comover o público. A música é voz. (Continua) (ver Parte I em 18.04.07)

1.5.07

O cromossoma X

Esta semana A Cidade das Mulheres selecciona nos artigos do NYT um artigo de ciência, pela pena de Nathalie Angier, «For motherly cromossome X, gender is only the beginning». Para quem se interessa pela questões de género, não há nada como começar pelo princípio... da vida.

http://www.nytimes.com/2007/05/01/science/01angi.html?ex=1335672000&en=5d563baee54fd626&ei=5124&partner=permalink&exprod=permalink

A mulher e o trabalho



A Cidade das Mulheres comemora este mês de Maio 365 dias de existência - um ano inteiro na blogosfera! Viva o trabalho! Viva a mulher!

Fotografia de João Tabarra realizada no âmbito de uma produção de moda de Cristina Duarte para o jornal Blitz (nº235, 2.05.1989), com a participação de Maria Eduarda.
A exposição «G/João Tabarra. 2ªParte» está patente até dia 5 na Galeria Graça Brandão, Rua dos Caetanos, 26-B, entre as 11h00-20h00.