29.3.07




Em cima, colecção de Lara Torres; em baixo, final do desfile de Ricardo Preto na ModaLisboa Outono/Inverno 07/08, fotografias de Rui Vasco. Como no filme Casablanca, «Play it again»... A Cidade das Mulheres espera por vós em Outubro, para mais uma edição da ModaLisboa.

Cristina L. Duarte





Em cima: colecção Anabela Baldaque
Em baixo: colecção Alves/Gonçalves
Fotografia: Rui Vasco/Arquivo ModaLisboa, Inverno 07/08








Colecção Ana Salazar Outono/Inverno 2007/08
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa

27.3.07

Tempo de teatro


Sugestão para uma ida ao teatro, entre quarta a domingo, até 1 de Abril, na Sala Estúdio do Teatro da Trindade: «Aniñando», uma tragicomédia falada em português, castelhano e catalão; encenação de Sofia Cabrita; interpretação de Rita Rodrigues e Mireia Scatti; concepção plástica de Sara Franqueira; máscaras de Matteo Destro. Duração: 75m

Dia Mundial do Teatro


A actriz Sarah Bernhardt, fotografada por Nadar em 1864.

23.3.07









Filipe Faísca Outono/Inverno 07/08
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa









ModaLisboa Outono/Inverno 07/08
Em cima: colecção Lidija Kolovrat
No meio: colecção Alexandra Moura
Em baixo: colecção Nuno Gama
Fotografia: Rui Vasco/Arquivo ModaLisboa











Colecção José António Tenente Outono/Inverno 2007/08
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa

21.3.07

Primavera

«Primavera que Maio viu passar
Num bosque de bailados e segredos
Embalando no anseio dos teus dedos
Aquela misteriosa maravilha
Que a transparência das paisagens brilha.»

Sophia de Mello Breyner Andresen (in Obra Poética I, Caminho, 1999)


Hoje, Dia Mundial da Poesia, pelas 21h30, a novíssima Biblioteca Municipal Florbela Espanca, em Matosinhos acolhe o espectáculo dos Wordsong; em Lisboa, é noite de «Herberto Helder». Há Poesia no Frágil (23h00, Rua da Atalaia, 126). Participam Graciano Dias, Paulo Abelho João Eleutério, Danças Ocultas e Gonçalo Siopa.

19.3.07




Parte IX
Uma semana após o fim do seu calendário, a 28 ªedição da ModaLisboa, no Museu Nacional de História Natural, mostrou óptimos trabalhos, para o qual contribuiram evidentemente os designers de moda convidados, mas também um batalhão de pessoas que esteve a trabalhar nos estilos: desde as aderecistas, às equipas de maquilhagem e cabelos, à direcção de passerelle, e designers de som.
De tudo o que A Cidade das Mulheres observou, muito fica ainda por mostrar. Mas como faltam seis meses para o (próximo) ritual da moda (as colecções de pronto-a-vestir estão sujeitas a um calendário sazonal rígido: em Fevereiro/Março apresentam-se em todo o mundo o Outono/Inverno seguinte; e em Setembro/Outubro é apresentado a Primavera/Verão do ano seguinte) podemos semanalmente regressar a uma imagem produzida in loco. Para já, aqui jaz mais uma selecção daquilo que foi o melhor do melhor, com a assinatura do feito em Portugal. (Em cima, colecção Alexandra Moura).






Tempo da Poesia

Auto-retrato

Este que vês, de cores desprovido,
o meu retrato sem primores é
e dos falsos temores já despido
em sua luz oculta põe a fé.

Do oculto sentido dolorido,
este que vês, lúcido espelho é
e do passado o grito reduzido,
o estrago oculto pela mão da fé.

Oculto nele e nele convertido
do tempo ido excusa o cruel trato,
que o tempo em tudo apaga o sentido;

E do meu sonho transformado em acto,
do engano do mundo já despido,
este que vês, é o meu retrato.

Ana Hatherly, A Idade da Escrita, Lisboa, Edições Tema, 1998

15.3.07




Parte VIII
Dos 23 desfiles realizados no âmbito desta ModaLisboa Outono/Inverno 2007/08 A Cidade das Mulheres esteve presente em 18 deles. Viu tudo o que queria ver, excepto Nuno Gama (n.Azeitão, 1966). Hélas! Mas depois entrevistei o Gama e senti-me compensada (brevemente disponibilizarei esse material). Há imenso tempo que não conversávamos e bem me lembro da nossa primeira entrevista (talvez eu tenha sido a primeira pessoa a fazê-lo, nos finais dos anos 80, quando ele ensaiava as primeiras colecções com a sua etiqueta pessoal e fazia uma lindas camisolas à poveira, numa versão muito sua, em chenille, cor de nevoeiro). No final da apresentação da sua colecção Homem, os manequins de calção e gorro (à Pai Natal) soltavam pombas brancas. Uma delas pelo menos ficou dentro da sala, pois por altura do Filipe Faísca - que fez uma colecção inspirada na nossa etnografia regional, mesclando os estilos etno e urbano. «Está ali um pássaro» - exclamava alguém ao meu lado, olhando para cima. Era uma das pombas do Gama, que quis ficar para ver o Faísca pairar sobre os costumes do Alentejo, algo que já foi igualmente motivo de inspiração para Gama, em tempos idos.
No último dia de desfiles, eis outro jovem mago da moda de autor nacional: Nuno Baltazar (n.Lisboa, 1976). Desta vez a sua colecção Mulher inspirou-se numa viagem ao mundo shakesperiano e resgatou o ambiente literário do autor de «Hamlet», para uma leitura integrada na banda sonora (lida pelo actor João Reis). Adaptou algo do vestuário isabelino ao modo como este designer vê a mulher decidida do séc.XXI (todas com um cabelo igual) e ofereceu-lhe algumas belas peças: capas (com zip incorporado, ver na foto); camisas brancas de grandes laçadas, calças com plissados laterias (tipo falsa saia, ligada à perna por zip), e botas muito altas e giras. Na passerelle, uma convidada especial: Catarina Furtado.

Cristina L. Duarte
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa




PARTE VII
A Cidade das Mulheres congratula-se com o prémio de Melhor Manequim atribuído pelo canal Fashion TV a Sofia Baessa (Central Models). Todo o grupo de manequins que trabalhou na ModaLisboa está igualmente de parabéns, pelo óptimo trabalho executado (e aquela passerelle não era canja - a distância percorrida entre a saída de bastidores e o final da passerelle, junto aos fotógrafos, era de 70 longos metros).
«Nem saudade» intitula a colecção Inverno 07/08 de Maria Gambina (n. Oliveira de Azeméis, 1969) que, nesta 28ªedição ModaLisboa - pisou a passerelle duas vezes, já que foi ela que desenhou também a colecção de senhora da Lion of Porches.
Inspirada na Ópera do Malandro, de Chico Buarque, a colecção de homem e de mulher de Gambina encontram-se num ponto: o ar masculino de ambas, com um ponto de fuga na silhueta feminina com inspiração na lingerie. A deslocalização de fragmentos de peças re-colocadas foram aqui a tónica, visível por exemplo em camisas com pormenores de trench coats, ou camisolas de algodão misturadas com transparências. A colecção retrata assim os contrastes - «o justo, o largo; o subido, o descido; o curto, o comprido; o pequeno, o grande…o amor e o ódio». A paleta de cores transporta-nos para ambientes brancos, cinza, preto e amarelo pálido, com o vermelho sangue a surgir em detalhes gráficos como gravatas, vivos, casas de botões e peças «escondidas» que só se vêem por aberturas «rasgadas» que fazem parte da construção de outras peças. Finalmente, casacos/vestidos com volumes localizados na cabeça das mangas levam-nos para um ambiente do século XVI, numa abordagem «gambina» sobre a burguesia espanhola. E de repente o século XVI está na moda! Dourado e Baltazar utilizaram também referências de Quinhentos nas suas propostas de futuro. (Continua)



Cristina L. Duarte
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa





PARTE VI
Aleksandar Protich (n.Belgrado, 1973) continua a desenvolver a sua abordagem gráfica e linear a nível do corte, mais rígida agora na forma, em materiais como a lã e a seda, segundo diferentes tons de grafite, cinza, preto e prateado. A primeira participação deste designer no Lab da ModaLisboa data de Abril de 2002 (ele reside em Lisboa há oito anos) e desde então que é visível o primor da sua costura. Um elemento recorrente nesta colecção de mulher para o Inverno 08 é uma espécie de aba/pétala sobreposta à anca; outro elemento é um tecido preto de brilho metálico (ver foto). A Cidade das Mulheres adorou os drapeados de Protich, as calças com riscas desencontradas (pelas costuras), e as blusas de seda com estampado de quadrados modernistas.
Anabela Baldaque (n.Vizela, 1964) trouxe a Lisboa uma colecção de mulher cheia de pormenores deliciosos, peças adoráveis que se querem tanto para o Inverno, como para o Verão (os vestidos, neste caso). Imbuída de um espírito Oriental Anabela deu-nos uma silhueta ampla, algumas vezes a contrastar com peças justas. «Na China, o salgueiro-chorão simboliza o renascimento... foi aí que começou esta história , na força do renascer. O bulício dos sonhos, a poeira de Pequim, o silêncio da Cidade Proibida. A era das cortesãs vestidas de seda....». Lindos os casacos de pêlo curto, outros com volumes e mangas raglan, as saias curtas tufadas e presas como punhos. As cores da criadora são os beges claros, aqui texturados, os verdes e cinzentos oxidados, as cores mesclas e pretos brilhantes, apontamentos de turquesa, castanhos e cinza estanho. Exultante a sua mistura de tecidos e de texturas. E os sapatos, muito originais, de componente exótica, com um tacão de madeira clara. (Continua)



Cristina L. Duarte
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa

A opinião das mulheres

http://www.nytimes.com/2007/03/15/arts/15oped.html?ex=1331611200&en=4425c53b666b1795&ei=5124&partner=permalink&exprod=permalink

14.3.07





Parte V
Os anos 50 do cinemascope, das juke-box e das raparigas de rabo de cavalo foram reinterpretados por Katty Xiomara (n.Caracas, 1974) numa colecção de mulher que não foi tão activista, como em estações passadas, em prol de um revivalismo nostálgico e de um jogo com as peças da sua linha Katty Xiomara Intimo. Ao revisitar os tempos do rock around the clock Katty ficou um pouco presa nas malhas que ela própria teceu, muito embora a frescura que ela consegue colocar em cada peça e/ou quadro de roupa nos faça esquecer esta sensação de já visto e já assimilado.
Escrever sobre o trabalho implícito em cada colecção de Luís Buchinho (n.Setúbal, 1969) é cada vez mais difícil, dada a complexificação inscrita em cada peça (corte, molde, desenho, etc.). A inspiração em vestuário utilitário segundo linhas clássicas revisitadas num ambiente descontraído, informal e cosmopolita é o tema. Mas na altura da passagem passar para o papel o que está em presença na passerelle, não é nada fácil. Revejo os meus apontamentos, tal como os registo no momento do desfile: vestidos, com jogos geométricos (um Delaunay têxtil ?); sobreposição de tecidos; blusão/capa em fazenda; belo trabalho de zips inseridos nas mangas; crepons de seda amachucados, com efeito lustrosos; gabardine com zip de alto a baixo; macacão fluido (roxo). Tudo isto e muito mais resulta numa fusão de volumes soltos, tubulares, de formas estruturadas e dinâmicas: parkas volumosas, e blusões curtos reforçam o lado mais informal da colecção; casacos 3/4 delgados, formas orgânicas em capas ou gabardines, saias e vestidos com detalhes drapeados (em jersey) são usados para aspectos mais femininos e românticos. Utiliza ainda feltros de lã densos, voile estampada, cetins algodão/ metal, tweeds compactos, pêlos e cabedal. As cores do Inverno 08 de Buchinho são preto, antracite, cinzas claros, roxo, malva e cobre. (Continua)




Cristina L. Duarte
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa




Parte IV
O dia apresentava-se claro e luminoso para receber a nova colecção algo futurista de Ricardo Dourado (n.Cabeceiras de Basto, 1980), a que resolveu chamar «dresses for rain». Não foi o único designer a inspirar-se no corte masculino com raízes na indumentária do séc.XVI, a que juntou os ambientes de um passado muito mais próximo, os finais dos anos 80 e o ar desportivo dos anos 90, «tudo em estreita ligação a um futuro de ambientes mais industriais, tecnológicos, sombrios por natureza.» Propôs assim a rua, a noite, o movimento e a liberdade como a moldura conceptual para uma apropriação da aparência, consoante um léxico de materiais (vários tipos de algodões com induções; lã; plástico / holograma), de cores (azul noite em duas derivações; preto; cinza; apontamento hipercolorido), de volumes em contraste/sobreposições, e efeitos estruturais e/ou gráficos.
Depois de Dourado, tivémos em passerelle a colecção de Ricardo Preto, «I could live forever», cujas peças podem, segundo ele, «viver em grupo, em dupla ou passar a vida sozinhas – são volumes exagerados que acabam abruptamente agarrados ao corpo. Silhuetas conturbadas à beira do desmaio. Amarelos, azul marinho, verdes, castanho e preto em materiais como as fazendas, a caxemira, o pêlo sintético, o algodão, o jersey e as lãs». Preto integrou a plataforma Lab da ModaLisboa há um ano e conta já com muitos fãs. Muito interessantes os toucados das manequins, uma espécie de turbantes estilizado (com a pequena máquina fotográfica presa nas voltas do lenço), bem como alguns dos seus pormenores, como os favos gigantes em vestidos e em mangas, e o seu jogo de cores. (Continua)



Cristina L. Duarte
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa

13.3.07




Parte IV
Sara Lamúrias (n.Lisboa, 1976) desenha a etiqueta «aforest-design», um projecto próprio que visa comunicar novas ideias através do design, da moda e da arte. Uma visita ao seu sítio na internet - www.aforest-design.com – dá a conhecer os seus produtos de edições limitadas, lançadas trimestralmente. Presente desde 2005 na plataforma Lab da ModaLisboa, onde se pretendem dar a conhecer as experiências mais laboratoriais no campo do design de moda, «aforest» faz uma abordagem táctil à moda, «fazendo aparecer espaços negativos, volumes e interiores de formas básicas do vestuário e seus detalhes», numa colecção unisexo de peças de malhas tricotada ou felpas evocando peças fantasma, como golas de um blazer no jacquard de uma camisola de lã. Muito interessante o modo como Sara trabalha os pormenores e a forma como através do conceito de arte aplicada consegue transformar as peças do seu vestuário originalmente casual. Gostei especialmente dos moinhos/flor em recorte nas sweat-shirts e as grandes laçadas e pontas soltas a decorar peças de algodão, aparentemente básicas.
E já que A Cidade das Mulheres está em território do Lab, há mais para contar e para nos congratularmos com este espaço onde a experiência e o risco, aliadas ao bem fazer, caracterizaram também as colecções do próximo Outono/Inverno de Ricardo Dourado, de Ricardo Preto, de Aleksandar Protich, e de Lara Torres (n.1977), convidada em Outubro de 2005 a integrar a plataforma Lab. Desde então, aquela que é uma das jovens criadoras com um trabalho mais conceptual na nossa moda de autor, tem abordado o tema da Memória - «os fragmentos históricos podem revelar traços do passado, permitindo uma leitura do presente, sendo que o presente está em constante mudança, o passado deve ser reavaliado / re-representado». Mnemónica II é o título que veste esta colecção para mulher, onde se expõe um processo de trabalho que interpreta e reinterpreta a forma, a rainha da passerelle. A silhueta é linear, desenhada ao longo de uma escala de cinzentos, castanhos e bejes, e pontuada ora pela repetição, ora pela fragmentação. A assimetria nas malhas é a evidenciar em peças como uma camisola/poncho; assim como são de realçar as calças com volumes localizados, através de enfatização da forma. Na maquilhagem, observei os corações pretos nos cantos dos lábios. Raparigas com o coração na boca, portanto, em ambiente sonoro zen, com montagem de Simão Dias. (Continua)




Cristina L. Duarte
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa

12.3.07

11.3.07






Parte III
’Venham mais cinco’: a canção que Faísca escolheu para o final do desfile e que recordo aqui para falar de mais nomes que já passaram pela passerelle da ModaLisboa (Outono/Inverno 2007/08). Dino Alves (n.Anadia, 1967) colocou a manequim Sofia Baessa a abrir o seu desfile com uma gigantesca sombrinha-chapéu, cor branca. Mulher-anjo, futurista, onírica, consoante a vida terrena (nos) permite. O mais comum é que uma colecção de Dino dê origem a uma galeria de personagens etno-urbanas, como se os homens e mulheres em presença na passerelle estivessem prontos a entrar para dentro não de um, mas de vários filmes. Desta vez, Dino escolheu apresentar roupa, sem muita encenação à sua volta. Para tal, recorreu a uma silhueta muito volumosa, combinada com peças muito cingidas ao corpo; quis experimentar volumes inesperados e uma silhueta facetada, misturando para além disso imagens angelicais, com outras mais agressivas e austeras. Explorou efeitos de texturas em tamanhos XXL – desfocado/enevoado, lados diferentes numa mesma peça, corrente em escala gigante, arte aplicada, efeito puzzle - e aplicou motivos, por exemplo, pássaros sobre saia em tule. A Cidade das Mulheres gostou de ver o esforço do Dino em fazer roupa para vestir no dia a dia, e da variedade de propostas que ele apresentou (nos mais variados padrões e materiais: algodão, mousseline, seda, tule, vinyl, lã, poliesters, pele, e pêlo artificial).
Sábado, o dia começou com Tenente no museu, isto é, às 12h00 lá estávamos nós para ver a colecção de mulher e homem de José António Tenente (n.Cascais, 1966). Ao fim da manhã sinto-me mais fresca para absorver o que a passerelle me traz, muito mais do que ao fim de um dia de ver desfiles e colecções. A paleta que ele criou é minimal. Preto, com efeitos gráficos em azul, ou em amarelo. Por vezes, riscas estreitas preto no branco. Marcada por aquilo que Tenente chama um futurismo ingénuo, sinto na colecção uma história de vários tempos e andamentos, sobretudo nas mulheres, pela junção de estilos característicos à ética de design de Tenente: imagine-se uma senhora de 1900 (da cintura para cima) vestida com uma mini à anos 60. Giro, não? Os arranjos de cabelo, num apanhado atrás (à bailarina) e dentro de uma rede/tule em balão dava às mulheres um ar ibérico. Os casacos/capinha (um pouco à sherlock), mas também as capas pelo joelho (qual capucha de burel, mais comprida), os pulovers masculinos com grandes V no decote, os grandes bolsos para elas, como se fosse uma mini aberta à frente e atrás, ao meio, e os deliciosos mini-vestidos em cetim amarelo, com renda «guipure» e sombra escura por baixo e ainda um delicioso vestido comprido, largo, com um decote em forma de lágrima (grande), tudo isto e muito mais deliciou a Cidade das Mulheres que anotou ainda como a imagem da coreógrafa Martha Graham é omnipresente na colecção, fazendo-se assim a ponte com a colecção anterior, quase uma homenagem à dança.
Logo que possível, A Cidade das Mulheres converterá as anotações registadas à beira da passerelle em informação escrita e visual. Para já, corro para o museu, onde me espera «aforest» (Sara Lamúrias).
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa

11 de Março: 14h00 aforest-design / LAB; 15h00 Aleksandar Protich / LAB; 16h00 Lidija Kolovrat; 17h00 Anabela Baldaque; 18h00 Nuno Baltazar; 19h00 Pedro Mourão; 20h00 Maria Gambina.

Cristina L. Duarte

10.3.07




PARTE II
Depois de um final de tarde a correr, A Cidade das Mulheres chegou ao Museu de História Natural um bocado depois de já ter começado o desfile de Nuno Gama. Nada a fazer, senão esperar pelo próximo: Filipe Faísca (n.Moçambique, 1964), um quase histórico da moda de Lisboa, que esteve muitos anos «recolhido» em atelier, sempre a trabalhar para teatro ou de forma personalizada. Aqui, para o Museu de História Natural trouxe uma colecção exemplar, que intitulou «clássico rural». Foi aos tempos da adolescência passada no Alentejo, que se seguiu ao seu regresso de África, e deixou que certos modos no trajar invadissem a sua coleção, como o chapéu sobreposto ao lenço na cabeça (para mulher e para homem). O desfile abriu com um coro de vozes femininas (banda sonora rural/urbana/pop) e todo ele foi uma elegia à moda que não esquece a raiz popular do traje. Mais à frente A Cidade das Mulheres mostrará imagens deste recuperar da etnografia by Faísca.
Entretanto, a noite avançou com Lion of Porches (colecções agora desenhadas por Maria Gambina, mulher, e Fernando Nunes, homem) e finalmente com a nossa muito esperada Ana Salazar. Não podia ter sido melhor. Um desfile lindíssimo, claro e escuro, as manequins a entrarem no escuro, avançando no claro, até ocuparem toda a passerelle do princípio ao fim (direcção de passerelle: Paulo Gomes). Uma colecção preenchida de silhuetas estruturadas, cheia de drapeados, de volumes e detalhes, e materiais de alta costura, a que se juntaram as jóias para vestir de Valentim Quaresma. Os anos 40 pairaram nesta apresentação, a que se somaram outras referências da BD, da mulher-fatal, mas, sobretudo, «a força está na alma, na essência do que é fundamental», como escreveu Ana.
[Em cima, fotografia de Rita Carmo do desfile de Ana Salazar.]

10 de Março: 12h00 José António Tenente; 14h30 Ricardo Dourado / LAB ; 15h30 Ricardo Preto / LAB; 16h30 Lara Torres / LAB; 17h30 Katty Xiomara; 19h00 Luís Buchinho; 20h00 Miguel Vieira; 21h00 Delphine Murat / Guest Designer

Cristina L. Duarte