13.3.07




Parte IV
Sara Lamúrias (n.Lisboa, 1976) desenha a etiqueta «aforest-design», um projecto próprio que visa comunicar novas ideias através do design, da moda e da arte. Uma visita ao seu sítio na internet - www.aforest-design.com – dá a conhecer os seus produtos de edições limitadas, lançadas trimestralmente. Presente desde 2005 na plataforma Lab da ModaLisboa, onde se pretendem dar a conhecer as experiências mais laboratoriais no campo do design de moda, «aforest» faz uma abordagem táctil à moda, «fazendo aparecer espaços negativos, volumes e interiores de formas básicas do vestuário e seus detalhes», numa colecção unisexo de peças de malhas tricotada ou felpas evocando peças fantasma, como golas de um blazer no jacquard de uma camisola de lã. Muito interessante o modo como Sara trabalha os pormenores e a forma como através do conceito de arte aplicada consegue transformar as peças do seu vestuário originalmente casual. Gostei especialmente dos moinhos/flor em recorte nas sweat-shirts e as grandes laçadas e pontas soltas a decorar peças de algodão, aparentemente básicas.
E já que A Cidade das Mulheres está em território do Lab, há mais para contar e para nos congratularmos com este espaço onde a experiência e o risco, aliadas ao bem fazer, caracterizaram também as colecções do próximo Outono/Inverno de Ricardo Dourado, de Ricardo Preto, de Aleksandar Protich, e de Lara Torres (n.1977), convidada em Outubro de 2005 a integrar a plataforma Lab. Desde então, aquela que é uma das jovens criadoras com um trabalho mais conceptual na nossa moda de autor, tem abordado o tema da Memória - «os fragmentos históricos podem revelar traços do passado, permitindo uma leitura do presente, sendo que o presente está em constante mudança, o passado deve ser reavaliado / re-representado». Mnemónica II é o título que veste esta colecção para mulher, onde se expõe um processo de trabalho que interpreta e reinterpreta a forma, a rainha da passerelle. A silhueta é linear, desenhada ao longo de uma escala de cinzentos, castanhos e bejes, e pontuada ora pela repetição, ora pela fragmentação. A assimetria nas malhas é a evidenciar em peças como uma camisola/poncho; assim como são de realçar as calças com volumes localizados, através de enfatização da forma. Na maquilhagem, observei os corações pretos nos cantos dos lábios. Raparigas com o coração na boca, portanto, em ambiente sonoro zen, com montagem de Simão Dias. (Continua)




Cristina L. Duarte
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa

1 comentário:

Ferma disse...

Etsa Cidade das Mulheres está com um ritmo. Agora, com esta crónica ilustrada é que ninguem a agarra. Parabéns!