14.3.07





Parte V
Os anos 50 do cinemascope, das juke-box e das raparigas de rabo de cavalo foram reinterpretados por Katty Xiomara (n.Caracas, 1974) numa colecção de mulher que não foi tão activista, como em estações passadas, em prol de um revivalismo nostálgico e de um jogo com as peças da sua linha Katty Xiomara Intimo. Ao revisitar os tempos do rock around the clock Katty ficou um pouco presa nas malhas que ela própria teceu, muito embora a frescura que ela consegue colocar em cada peça e/ou quadro de roupa nos faça esquecer esta sensação de já visto e já assimilado.
Escrever sobre o trabalho implícito em cada colecção de Luís Buchinho (n.Setúbal, 1969) é cada vez mais difícil, dada a complexificação inscrita em cada peça (corte, molde, desenho, etc.). A inspiração em vestuário utilitário segundo linhas clássicas revisitadas num ambiente descontraído, informal e cosmopolita é o tema. Mas na altura da passagem passar para o papel o que está em presença na passerelle, não é nada fácil. Revejo os meus apontamentos, tal como os registo no momento do desfile: vestidos, com jogos geométricos (um Delaunay têxtil ?); sobreposição de tecidos; blusão/capa em fazenda; belo trabalho de zips inseridos nas mangas; crepons de seda amachucados, com efeito lustrosos; gabardine com zip de alto a baixo; macacão fluido (roxo). Tudo isto e muito mais resulta numa fusão de volumes soltos, tubulares, de formas estruturadas e dinâmicas: parkas volumosas, e blusões curtos reforçam o lado mais informal da colecção; casacos 3/4 delgados, formas orgânicas em capas ou gabardines, saias e vestidos com detalhes drapeados (em jersey) são usados para aspectos mais femininos e românticos. Utiliza ainda feltros de lã densos, voile estampada, cetins algodão/ metal, tweeds compactos, pêlos e cabedal. As cores do Inverno 08 de Buchinho são preto, antracite, cinzas claros, roxo, malva e cobre. (Continua)




Cristina L. Duarte
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa

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