não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
não posso adiar o coração
António Ramos Rosa
(Faro, 1924)
Escolhido pela escritora Maria Alzira Seixo para a colecção «Os poemas da minha vida» (Público), o poema de ARR surgiu-lhe quando era estudante de liceu e foi nessa altura «como a expressão de muitas coisas importantes: a vida inadiável, a luta contra o tempo, a afirmação da liberdade e do amor, a luta pela justiça. É um grito de humanidade e de superação que guardei sempre comigo».
1 comentário:
Alzira Seixo que tem, ela própria, alguma coisa de poesia publicada, perdida na sua juventude. Conhece?
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