27.7.20

Eulália

o conto deste Verão, com laivos de memória oral, clássicos juvenis, e mitos pouco urbanos, tudo num sítio, o do museu nacional do azulejo, sobre um outro sítio, o do/da quinta do castanheiro ~ ler de uma vez todos os episódios é o que me falta fazer, vou esperar pelo dia de amanhã ~ cristina


Eulália, a Menina Peixe

Ataíde tão focado no que se passa lá em baixo, não dá pelo tempo passar e, ao ver que o sol começa a desaparecer para dar lugar à escuridão, levanta-se num pulo, como se acabasse de acordar.
Quando está prestes a partir, sente o que não consegue explicar. Parece-lhe ver a lua refletir-se na água como um caminho de prata, e então, começa a descer a ravina até sentir as pequenas ondas desfazerem-se a seus pés.
Envolto neste cenário fantástico, sente o pensamento a viajar para longe, e é de lá que ouve uma voz que mais parece um assobio.
Ataíde inclina-se, e projeta o queixo para apurar os olhos e os ouvidos, mas não vê nem pescador nem marinheiro.
De súbito, uma criatura pequena e delicada, iluminada pelo luar, emerge das águas, metade menina, metade peixe.
“Sou Eulália” diz-lhe ela numa voz doce e profunda como um sussurro.
O vento soltara-lhe os cabelos, e os seios nus são para ele a descoberta de uma sensação nunca antes experimentada.
Fica parado sem conseguir pronunciar uma palavra. Assim que ganha coragem para abrir a boca, uma gaivota dá um grito, e a pequena Sereia, que agarrava a cauda com força, mergulha, desaparecendo no manto negro das profundezas.
Ataíde estremece com a aragem fria e húmida, ficando sem saber se o que acabara de ver e ouvir fora um sonho ou realidade.

Um Dia na Quinta do Castanheiro.
Conto ilustrado com azulejos
Por José Manuel das Neves,

Integrado na iniciativa: "De Porta Aberta… Escolha como quer entrar"


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