Depois de uma longa e proveitosa espera na entrada do museu do design e da moda (MUDE), no passado dia 10, ao final da tarde, chegou-se finalmente ao andar onde ia acontecer o «desfile» e onde esteve até final de Janeiro a exposição «Assinado por Tenente» - uma exposição comissariado pelo criador de moda que relacionou em dois patamares conceptuais distintos (o da sua própria história, e o da colecção do museu), documentada por um ‘livro objecto’ onde se relata todo o processo criativo, incluindo uma entrevista feita a Tenente por Anabela Mota Ribeiro.
Se há sítio onde se pode fazer observação sociológica é parada numa fila, à espera. É esta espera que fomenta a observação. Em tempos, havia um professor de Sociologia que dizia que um dos melhores locais para fazer observação sociológica era a paragem de autocarro. Aqui, parada no museu, o tempo pára (aliás, uma coisa tem a ver com outra, pois o museu favorece só por si mesmo essa interrupção do tempo). Deu para perceber que o público de Tenente é já muito variado, vindo de vários campos profissionais e/ou artísticos. À minha frente, estava uma procuradora. Mais atrás, uma actriz de novela. Gente gira e jornalistas vários – desde a revista cor de rosa à mais sofisticada. Uma rapariga na fila, estava quase a desistir: «E se fóssemos para casa, ter com os peixinhos da horta?». O meu pensamento andava também por essas paragens, mas com outro menu: caldo verde. Uma meia hora de espera para entrar num desfile de um criador até nem é muito. Tudo depende do amor que lhe temos. Muitas câmaras de televisão já lá estavam em cima, quando o público finalmente pode entrar para a sala. Afinal era tudo muito livre, não havia cadeiras e circulava-se à vontade. Claro, se se conseguisse. Mas rapidamente este ambiente de caos foi capaz de se organizar e gerar ordem.
Não se tratou bem de um desfile, como eu esperava. Quem me manda a mim esperar? Estou a brincar. Prefiro chamar ao momento uma exposição-museu, com movimento. Um happening, enfim. No lugar dos manequins de «Assinado por Tenente», estavam agora manequins de carne e ossos, vestindo a sua colecção Primavera/Verão 2011, apresentada assim no MUDE em cima da estação (como é prática, por exemplo, nos calendários da alta costura).
À entrada da sala, destacam-se duas manequins muito jovens, de vestido vermelho, em pose descontraída, não musealizadas portanto. Graças à parte, é bastante interessante esta mostra em contexto de exposição-museu, de peças que ainda não conheceram a vida quotidiana da próxima Primavera/Verão. Não chega a dar saudades do futuro (Eduardo Lourenço on my mind) mas quase.
E por conseguinte entre magotes de gente, lá íamos encontrando amigos/as e deparando-nos com mais manequins humanos, em grupos organizados. Poderiam estar a ocupar uma vitrina, uma plataforma, um friso, uma galeria de modernos, enfim, que abandonava esse local de ‘exposição’ em direcção à passerelle, como quem desce para a rua. Aliás, o simulacro é esse mesmo: uma passerelle significa uma rua. O/a manequim desloca-se do lugar onde o olhar se fixa fixo, para o espaço do olhar em movimento. Gostámos. Gostei. O trabalho sobre o gosto é também um exercício de apropriação de território(s). A escrita idem. «O caos é a ordem por organizar»: frase retirada do trabalho num mural de um writer em pleno campo das cebolas, onde o graffiti e Saramago se encontram nesta cidade. Vamos jantar.
Cristina L. Duarte
Se há sítio onde se pode fazer observação sociológica é parada numa fila, à espera. É esta espera que fomenta a observação. Em tempos, havia um professor de Sociologia que dizia que um dos melhores locais para fazer observação sociológica era a paragem de autocarro. Aqui, parada no museu, o tempo pára (aliás, uma coisa tem a ver com outra, pois o museu favorece só por si mesmo essa interrupção do tempo). Deu para perceber que o público de Tenente é já muito variado, vindo de vários campos profissionais e/ou artísticos. À minha frente, estava uma procuradora. Mais atrás, uma actriz de novela. Gente gira e jornalistas vários – desde a revista cor de rosa à mais sofisticada. Uma rapariga na fila, estava quase a desistir: «E se fóssemos para casa, ter com os peixinhos da horta?». O meu pensamento andava também por essas paragens, mas com outro menu: caldo verde. Uma meia hora de espera para entrar num desfile de um criador até nem é muito. Tudo depende do amor que lhe temos. Muitas câmaras de televisão já lá estavam em cima, quando o público finalmente pode entrar para a sala. Afinal era tudo muito livre, não havia cadeiras e circulava-se à vontade. Claro, se se conseguisse. Mas rapidamente este ambiente de caos foi capaz de se organizar e gerar ordem.
Não se tratou bem de um desfile, como eu esperava. Quem me manda a mim esperar? Estou a brincar. Prefiro chamar ao momento uma exposição-museu, com movimento. Um happening, enfim. No lugar dos manequins de «Assinado por Tenente», estavam agora manequins de carne e ossos, vestindo a sua colecção Primavera/Verão 2011, apresentada assim no MUDE em cima da estação (como é prática, por exemplo, nos calendários da alta costura).
À entrada da sala, destacam-se duas manequins muito jovens, de vestido vermelho, em pose descontraída, não musealizadas portanto. Graças à parte, é bastante interessante esta mostra em contexto de exposição-museu, de peças que ainda não conheceram a vida quotidiana da próxima Primavera/Verão. Não chega a dar saudades do futuro (Eduardo Lourenço on my mind) mas quase.
E por conseguinte entre magotes de gente, lá íamos encontrando amigos/as e deparando-nos com mais manequins humanos, em grupos organizados. Poderiam estar a ocupar uma vitrina, uma plataforma, um friso, uma galeria de modernos, enfim, que abandonava esse local de ‘exposição’ em direcção à passerelle, como quem desce para a rua. Aliás, o simulacro é esse mesmo: uma passerelle significa uma rua. O/a manequim desloca-se do lugar onde o olhar se fixa fixo, para o espaço do olhar em movimento. Gostámos. Gostei. O trabalho sobre o gosto é também um exercício de apropriação de território(s). A escrita idem. «O caos é a ordem por organizar»: frase retirada do trabalho num mural de um writer em pleno campo das cebolas, onde o graffiti e Saramago se encontram nesta cidade. Vamos jantar.
Cristina L. Duarte
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