11.3.17

Segundo acto - O partir da loiça

Enquanto oiço XX, «I thought I had you on hold», refaço os acontecimentos passados e próximos. Uma história das emoções (aliada maior para fazer uma sociologia das emoções) poderia aqui ser minha aliada na reconstituição dos factos. Mas a música e a espuma dos dias diz-me que é melhor avançar, mudar de página, escrever outro capítulo da vida (na minha história de vida).

Ontem movimentei-me entre o público que acorre à modalisboa, nesta edição instalada no CCB, que é um bom spot para ver passar as modas, evidentemente. Mas ainda antes, quinta-feira, aterrei numa sala para assistir às conversas rápidas (not so fast, talks), e retive intervenções de relevo, entre as quais destaco a de Brigitte Stepputtis, («my boss is Vivienne Westwood»), onde fiquei mesmo interessada num livro da boss, chamado qualquer coisa como «Diaries of VW». Espectáculo! Então não é que esta abreviação do seu nome me levou a outra mulher, já desaparecida, mas com muito estilo: Virginia Woolf! Só agora constatei isto mesmo, quando tanta gente já deve ter chegado primeiro que eu a esta coincidência entre as iniciais da punk designer e da feminista escritora. Uma escreve / discursa através da roupa, inconformada, a outra através das palavras, inconformadas. Volto às conversas para destacar este projecto «Fashion revolution» de Carrie Somers, no qual me revejo e me situo, mesmo como investigadora. A ver em linha ó comunidade de pesquisadoras/es de estudos de moda.

Num outro compasso, quase sem espera, voei para a garagem sul, onde se realizam a maior parte dos desfiles desta edição «boundless» (sim, sim, também sou uma mulher sem fronteiras ; ) e assisti ao desfile do Sangue Novo, cuja primeira edição teve como vencedora Maria Gambina (onde andas tu ó designer da minha eleição?). Entre os/as jovens designers vencedores/as (Rita Afonso, Alexandre Pereira, ambos com menções honrosas que lhe garantirá a presença no próximo concurso) o prémio maior, Sangue Novo, foi para.... tchraaaaan, João Oliveira. Resta deixar aqui expresso, porque não público, que a minha preferência residiu na primeira proposta em passerelle, Rita Carvalho, que me surgiu, como uma designer na linha de Alexandra Moura (influenciada por, inspirada por?). Mas também colheu a minha simpatia Liliana Afonso, com uma proposta para uma série a que chamo 'sofisticado não te rales', mulheres vestidas e bem, mas com aquele toque desalinhado e contra-corrente de que eu gosto. Resumindo, as que eu gostei mais não ganharam nada. A oeste nada de novo. Estou nesse grupo.


Finally. Finalmente. Amanhã lá estarei de novo. Dino merece(-o). Gostava de conhecer a Nadir Tati, mas não tenho convite. Mas quem tem boca vai a roma, neste caso à modalisboa. A fechar o cartaz, o ciclo, este texto enfim, Nuno Gama. Há seis meses, a sua colecção Primavera/Verão para homens bem vestidos, foi apresentada no Museu de Marinha. O desfile terminou no exterior do museu, com os manequins a partir a loiça. Chegou a altura do segundo acto, com destino Outono/Inverno. É verdade: houve quem apanhasse os cacos ... Refiro-me objectivamente aos pratos partidos pelos manequins no final do desfile. Dentro de momentos, segue um destes cacos.

 

Cristina L. Duarte


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