Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.
Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se d' uma outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.
Ela só viu as lágrimas em fio,
que de uns e de outros olhos derivadas
se acrescentaram em grande e largo rio.
Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condenadas.
Luís Vaz de Camões [1524?-1580], Aquela triste e leda madrugada
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