11.8.07

Joëlle Léandre - Mulheres no Jazz IV

Joëlle Léandre (n.12.07.1951, Aix-en-Provence, França) começou por tocar flauta de bisel, passando rapidamente para o piano. Entre os nove e os 14 anos de idade estudou piano e contrabaixo na sua cidade natal de Aix-en-Provence. O seu professor, Pierre Delescluse, encorajou-a a frequentar o Conservatório Nacional Superior de Música de Paris onde ganhou o primeiro prémio em contrabaixo. Em 1976 recebeu uma bolsa do Center for Creative and Performing Arts (Centro de Artes Criativas e Performativas) de Buffalo, iniciando assim um período da sua vida que veio a revelar-se uma influência particular no seu trabalho, em virtude de encontros com Morton Feldman, e com a música de Earl Brown, John Cage e Giacinto Scelsi. Ao mesmo tempo, teve oportunidade de contactar a cena musical da downtown nova-iorquina e de prosseguir o seu envolvimento com a música improvisada.
Continuou ligada à música contemporânea, não apenas como membro de ensembles de música contemporânea como o 2E2M, Itinéraire e l'Ensemble Intercontemporain, mas especialmente através dos trabalhos a solo encomendados a Cage e Scelsi, que ela interpretou e gravou. Joëlle Léandre tocou e gravou em todo o mundo com Derek Bailey, George Lewis, Irène Schweizer, Anthony Braxton, Maggie Nicols, Lindsay Cooper, Fred Frith, Evan Parker, Carlos Zíngaro, Jon Rose, Eric Watson, Lol Coxhill, Peter Kowald, William Parker, Barre Phillips. É membro do Grupo Feminino Europeu de Improvisação (European Women's Improvising Group, gravado na Intakt 002) e integrou Les Diaboliques, com Maggie Nichols e Irène Schweizer. Afirmou ao Jazz Magazine (2003): «Sabem, tomar a palavra é importante. As mulheres têm poucos modelos, poucos ídolos. Nós pelo contrário temos de carregar o peso de uma história em que as mulheres não passavam de musas, emolduradas em quadros ou em poemas». [in http://www.jazzmagazine.com/Musique/oreille/oreille44.htm].
Gravou um dos discos mais bizarros (mesmo na óptica da improvisação livre) no Les Domestiques com Jon Rose – uma compilação de sons domésticos com arranjos musicais. Mais recentemente, fundou o Canvas Trio com Rüdiger Carl e Carlos Zíngaro, seus conhecidos de longa data. Depois de ouvir o jazz de Mingus, Cecil Taylor, Monk, Dolphy, depressa transitou para o reino livre da improvisação no qual, Derek Bailey é uma referência extremamente importante para ela, bem como George Lewis e Irène Schweizer e, certamente, Anthony Braxton. «Conhecer Derek em Nova Iorque há alguns anos atrás teve para mim um impacto quase tão grande como conhecer Cage» [Kanach, 1991].
Referindo-se a John Cage, numa declaração a Machart (1994) disse: «Ele será sempre o meu pai espiritual. Já tinha lido For the Birds antes de o conhecer. É um livro importante. Cage fez-me escutar o mundo à minha volta: “Deixa que o som seja aquilo que é”. Ele desvelou um universo de possibilidades; deu-me confiança; cozinhou para mim (era um óptimo cozinheiro) com o seu amigo Merce Cunningham; era um bom amigo. Era o primeiro a sorrir quando eu tocava a minha peça Taxi no hall da Universidade de Columbia – ainda me recordo bem disso!» Sobre Scelsi, disse ao mesmo entrevistador: «Outro encontro tão importante como ter conhecido Cage. Scelsi respeitava a liberdade dos meus actos, havia uma intimidade quase feminina entre nós. A sua música avassalava-me, é cheia de verdade porque nos fala da nossa consciência, da nossa condição humana. Ouvir a sua música afecta-me profundamente. Não tem propriamente uma qualidade ‘geográfica’; tem ondas que nós fazemos vibrar. Gosto muito de tocar as suas várias peças para contrabaixo porque me proporcionam um mundo completo de sonoridade. É uma música paradoxal, na medida em que é complexa e simples ao mesmo tempo. Conheci Scelsi em 1978, em Roma, depois de uma estadia na Universidade de Buffalo, onde descobri Okanagon, uma das suas peças mais extrordinárias. Rapidamente nos tornámos amigos. Dez anos mais tarde, no dia 8 de Agosto de 1988, eu estava presente na hora da sua morte. Foi como se se tivesse, simplesmente, desvanecido.»
Em 1994, Joëlle Léandre foi a artista DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdienst) em residência na cidade de Berlim; entre Novembro de 1997 e Junho de 1998 viveu em Metz, nordeste de França, dando aulas e master classes em instituições de ensino superior desta região e apresentando-se em concerto com vários improvisadores, entre os quais, Eric Watson, Lauren Newton, Carlos Zíngaro, Paul Lovens. Foi professora convidada de improvisação e composição no Mills College, Oakland, California, entre Septembro e Dezembro de 2002 e, novamente durante o mesmo período em 2004, aquando da sua visita a Darius Milhaud, professor de composição e improvisação em Mills.
Hoje, no Jazz em Agosto, Joëlle Léandre, uma das mais reputadas contrabaixistas europeias, apresentar-se-á a solo, às 15:30, na Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna da FCG. É um solo especial que versará compositores contemporâneos que escreveram obras exclusivas para ela: Giacinto Scelsi, John Cage, Phillipe Hersant, José Luís Campana. O solo não se cingirá a estes compositores, Joëlle poderá ser também ouvida nas suas consumadas improvisações, onde a sua voz adquire uma nova contundência. Um seu disco recente de 2005 gravado na Bélgica na label Jazz Halo, «Concerto grosso, Live at Gasthof Heidelberg Loppem» é o retrato sónico desta extraordinária contrabaixista.

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