13.8.07

Lauren Newton - Mulheres no jazz VI

Lauren Newton (na foto, à direita) vive na Alemanha desde 1974, mas nasceu em Coos Bay, Oregon (EUA), filha de pai contrabaixista. Recorda-se das sessões de jazz que aconteciam em sua casa, mas do seu ambiente tanto fazia parte o jazz como a música clássica, que começou a aprender em primeiro lugar. Apesar do jazz «estar-lhe no sangue» como ela afirma graciosamente, o seu interesse por ele só despertou com a sua vinda para a Europa, para terminar os seus estudos na Universidade de Estugarda. Por um acaso, estava num clube de jazz em Estugarda quando a convidaram para fazer parte de um grupo, que fazia uma mistura de rock e jazz. Quando o músico que a convidou, Frederic Rabold, lhe perguntou se ela escrevia letras, respondeu redondamente «não». No entanto, disse-lhe que poderia cantar como se a sua voz fosse um dos instrumentos: «Sempre quis fazer algo diferente com a minha voz; mesmo durante os estudos clássicos procurava sempre canções de linhas melismáticas ou sem letras e estudáva-as intensamente». A sua voz integrou-se assim no grupo, cantando como um instrumento ao lado do trompetista e do saxofonista. Paralelamente, trabalhava em repertório moderno na escola, pois não queria ir para ópera. Interessava-lhe sobretudo o novo repertório do século XX. Depois de terminar os seus estudos, foram precisos apenas dois anos para ser descoberta por Mathias Ruegg, líder da Vienna Art Orchestra, uma «big band» de jazz. Este foi o principal grupo com quem cantou durante 10 anos (1979-1989 ), e com o qual veio a Lisboa numa das edições passadas do Jazz em Agosto.
Em entrevista concedida a Alain Drouot, em Lucerna, Suiça (em Novembro de 2001), Lauren confessa que em toda aquela década de trabalho com a Vienna Art Orchestra aprendeu a ser mais forte, como música e como mulher, já que eram todos homens num grupo 13 pessoas. Aprendeu além disso a desenvolver a sua voz de uma maneira diferente e segundo uma linguagem musical própria. É esperado que um (a) músico(a) de jazz saiba improvisar sobre as mudanças, o que conseguia fazer até certo ponto, mas só mais tarde veio a desenvolver esse aspecto mais aprofundadamente.
Para Lauren Newton foi muito bom afastar-se daquela orquestra, pois isso significou «afastar-se da distracção de estar numa grande banda onde uma pessoa pode ser facilmente esquecida enquanto ser individual».
Depois, veio a trabalhar com Anthony Braxton e com outros músicos e músicas: The Vocal Summit, com Bobby McFerrin, Jeanne Lee, Jay Clayton, e Urszula Dudziak. Trabalhou também com Maria João, durante um par de anos, e fizeram concertos juntas. Desde 1990 que tem o seu quarteto vocal composto por ela própria, pela alemã Elisabeth Tuchmann, e por dois homens - os austríacos Oskar Mörth e Bertl Mütter.
Outro projecto que tem desenvolvido é um duo com Joëlle Léandre, voz e contrabaixo, uma admirável combinação para a improvisação livre. Para Lauren o que Joëlle, como outras mulheres, está a fazer na cena do jazz é fantástico, mas continua a sentir que é ainda um mundo de homens. «Estou tão habituada, que já nem penso nisso. (...) Mas muitas mulheres estão interessadas em tocar jazz. Veja-se quantas estão na clássica. Entre cantores, a maioria são mulheres. Tenho alguns rapazes entre os meus alunos, mas sempre que dou workshops, quase sempre há mais mulheres».

Na fotografia, o grupo vocal Timbre, no Jazz em Agosto, dia 11.
Foto: Joaquim Mendes/Cortesia Fundação Calouste Gulbenkian.

http://www.laurennewton.com/index.htm

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