16.4.08

Abaixo o futebol, viva o desporto!

Há poucos minutos, uma automobilista seguia o seu caminho, pacatamente, pela segunda circular na direcção de benfica. A via apresentava-se desimpedida, sem tráfego de maior. Tudo parecia apontar para uma viagem calma, apesar de nos situarmos entre dois estádios, dois clubes, que se defrontam esta noite. Mas afinal, o confronto – que nada tem ou cada vez tem menos de desportivo – aconteceu ali mesmo, numa das bermas desta via da capital. A páginas tantas, os automóveis começaram a abrandar e a formar filas. A automobilista descortina nuvens de fumo, ao longe, mas não muito longe. Depois, muito nitidamente, observa carros da polícia, de choque. Homens com capacetes, e viseiras, vestidos de cor azul, usando fatos com a palavra «polícia» nas costas. Nas suas mãos, armas que disparavam projécteis (de fumo? de borracha?). Homens a correr uns atrás dos outros. Polícias, claques, rufiões? Quem é o quê? Uns de braços no ar, como quem se entrega depois de uma brincadeira que correu mal. Outros, continuam a correr à frente da bófia, que continua a fazer disparos. São umas seis da tarde, talvez um pouco mais, e para quem circulava àquela hora, o filme na segunda circular, em Lisboa, era este. Por isso, eu digo e repito, abaixo o futebol, viva o desporto. Como manifestação da cultura masculina, o fenómeno rufia é só um dos lados dos estados autoritários e patriarcais. Será que a cultura do desporto não nos pode resgatar a este estado de sítio instalado fora e dentro das quatro linhas? Mais uma vez, abaixo o futebol. Até que se faça luz. Desabafo.

3 comentários:

A Lusitânia disse...

Subscrevo inteiramente. Abaixo o futebol assim.

A Lusitânia disse...

Cris, hoje dia dos Monumentos e Sítios que foi este ano dedicado aos Espaços do Sagrado, deixei um pequeno texto para ti (que tenciono continuar) sobre as Mulhres e as Divindades em Roma.

Abraço, já tenho tantas saudades dos nossos almoços, classificados «Bens de Interesse Cultural»....

Nuno Góis disse...

Tem toda a razão no que escreve, mas penso, no entanto que não se pode responsabilizar o futebol, mas sim as pessoas que se aproveitam deste fenómeno de massas para, no meio da confusão, descarregarem cobardemente suas frustrações várias. São esta minoria de adeptos (rufiões) que maltratam a imagem deste desporto, se não, pensemos: Não há modalidades muito mais violentas? Porque é que isto só se passa no futebol?

Beijos