Quando em 2006 tive a sorte de ser convidada por uma produtora para participar no documentário sobre João Pedro Bénard da Costa (7.02.1935 - 21.05-2009) pude aproximar-se dele para o entrevistar - o que aconteceu em duas sessões não contínuas - e admirar o anfitrião/programador/director da casa que mais frequentei nos anos 80 e 90 - a Cinemateca Portuguesa. Depois de tantos filmes e mais filmes (e muitos, revistos) aproximar-me e entrevistá-lo foi, não só, o fim de um ciclo, como a secreta sensação de «a coisa certa no sítio certo». O mundo era justo e o meu quinhão de justiça no que ao cinema diz respeito e a Bénard (um e outro, são por vezes o mesmo) estava resolvido. As duas entrevistas que lhe fiz foram longuíssimas, mas com ele, o 'tempo ardeu que nem pau de fósforo'. O guião do documentário em causa foi construído mediante material vindo dessas duas entrevistas e de mais quase duas dezenas de entrevistados/as. Uma orquestra de vozes, amizades, afectos, cinefilias, e lugares através das quais se teceu entre mim e o realizador José Carlos Santos o documentário «No tempo do cinema» (produção: Panavídeo), estreado em Dezembro de 2006, na rtp:2 (repete hoje à noite).
Como não há mais palavras para definir a tristeza que sinto hoje nesta cidade das mulheres -imaginando que a esta hora a Greta Garbo com aquela voz tão Ninotchka tem finalmente acabada de chegar ao céu uma voz com um timbre à sua altura -, deixo aqui uma pequeníssima citação in memoriam João Bénard da Costa: «quando se está a falar sobre um filme e das nossas afinidades com o filme ou não, afinidades para bem, ou para mal, somos nós que estamos ali, é inseparável a relação, sou eu que estou em relação aquele filme, não é mais ninguém.»
Cristina L. Duarte
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