«Embarcou numa aventura sem saber muito bem onde iria terminar. De uma coisa estava certa, seria um lugar novo. O lenço na cabeça defendia-a dos ares agrestes e da humidade da maresia. Sabia dar várias voltas com as pontas e já o tinha posto de maneiras diferentes consoante a disposição do dia». Maria pousou o portátil, abandonando-se por momentos à (dura) realidade de mais um dia de tratamento. Antes mesmo de ficar doente, havia ouvido uma explicação muito simples, mas eficaz, sobre o cancro: as células crescem e dividem-se, como numa zanga. Quanto mais zangadas ficam, mais se dividem. Há que seguir com leveza, pensou Maria. Como na moda. Absorver a superficialidade do momento, vivido no aqui e agora. Mas atenção: é na superfície das coisas que se esconde a profundeza das mesmas. O Hubert Givenchy dizia que as pessoas adoram sonhar e a moda faz sonhar. Esse é também o seu poder. Soltamos os pés da terra, para voltarmos a esta placa-mãe com mais segurança. E Maria retomou a sua dose de literatura do dia, ao sabor do conto de uma mulher que se viu numa aventura sem final à vista.
Cristina L. Duarte
3 comentários:
A dura realidade de muitas mulheres. Parabéns pelo conto ;) pela subtileza com que interligas a luta contra o cancro com a moda
Mas que belo. Cris mostra como uma certa volta no lenço faz vir à superfície aquela bolhinha de felicidade.
Belo conto, belo título.
Parabéns
É um conto... mas a realidade não foge muito...
Parabens
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