As mulheres ainda querem ser princesas?
Não! mas como a sociedade acha que esse papel tem de continuar a ser desempenhado pelas mulheres – só assim se explica, por um lado, a pergunta, por outro que se continue a veicular imagens/produtos/discursos que continuam a prolongar o mito da princesa.
É um papel que apela ainda ao imaginário feminino?
Ao meu imaginário não. Ao das demais mulheres, não sei. Temos de esperar por uma investigação científica sobre esse tópico, que pode ser matéria para os Estudos sobre Género ou para os Estudos Feministas. Não sei mesmo se o imaginário feminino não é normalmente ignorado, não sendo fácil conhecer a sua expressão, nem o seu desejo. De qualquer forma, este é um problema de «género», entendendo este como a construção social e cultural do que é ser mulher e do que é ser homem. E, recorrentemente, a propósito deste assunto, é aludida a famosa frase de Simone Beauvoir, «não se nasce mulher, torna-se mulher», do seu livro «O segundo sexo», que embora tenha sido lançado no longínquo ano de 1949, continua muito actual.
Esse papel, afinal qual é?
Boa pergunta. Não há como ir ao fundo da questão. Primeiro, penso que é o papel da clausura: presa numa imagem que é redentora para a sociedade, essa mulher-princesa, no seu pedestal social, é alvo de uma atenção por parte da sociedade envolvente, atenção essa que não receberia de outro modo, ou por outras vias.
A mulher-princesa é a mulher que quer ser salva?
Apetece-me perguntar antes, ‘salva de quê?’ ;)
É uma mulher que aceita um ‘apagamento’?
Se apagamento aqui está a ser utilizado no sentido de opacidade social, a resposta é sim.
Ou pelo contrário as actuais princesas já não são assim ou já não projectam essa imagem, e são mulheres ditas modernas?
De que falamos, quando falamos de princesas? De família real. De transmissão cultural. De ficção quotidiana. De contos de fada. E só em último lugar, de mulheres e de cidadania. Porque, e vou citar a escritora Virginia Woolf, «Na realidade, como mulher, não tenho país. Como mulher não o desejo. Como mulher o meu país é o mundo».
Que impacto têm estas narrativas de princesas e princípes na formação das mentalidades?
Todo, desde que se transmita 'ad eternum'.
Reforçam imagens pré-concebidas sobre o papel das mulheres e dos homens?
Sim, mas com reservas. Porque todo o trabalho levado a cabo pelas feministas para desmontar os estereótipos e activar os direitos das mulheres – e refiro-me aqui às vagas do feminismo no séc.XX, até ao tempo em que elas lutavam pela instrução, e pelo voto – tem efeitos que nos tornam sujeitos da história.
Respostas escritas por Cristina L. Duarte, a perguntas de Ana Clotilde Correia (Lusa).
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