21.6.07

O Espelho II


Sobre o início deste espaço na blogosfera designado «A Cidade das Mulheres» expliquei por ocasião do aniversário (um ano!) em Maio último que o nome se deve à primeira mulher que, no Ocidente europeu, fez da escrita a sua profissão. Há uma edição recente, em português, do texto originalmente intitulado «La cité des dames». Mulher de letras e considerada hoje como uma precursora do feminismo, Christine de Pisan (por ter nascido em Itália, Pisa, em1363) mobiliza-se na escrita em favor das mulheres, de modo a cultivar a defesa do sexo feminino e imaginar uma igualdade entre os sexos. Contudo, a expressão organizada de uma aspiração à igualdade só virá a afirmar-se a partir da Revolução Francesa, e a constituir-se como movimento social apenas no século XIX.
Christine de Pisan faz os seus estudos e educação em Paris, na corte do rei de França, Carlos V, e casa com Etienne de Castel, de quem teve três filhos. Ficando viúva aos 26 anos, é então que se começa a dedicar à criação literária. Quando morre o rei, protector da família, e depois de morrer também o pai, Thomas de Pisan, Christine escolhe profissionalmente a arte liberal de escritora, sua única fonte de subsistência.
O Espelho de Cristina é a versão portuguesa de Le Livre des Trois Vertus, mandada imprimir em 1518 pela rainha D.Leonor - um tratado de educação e arte de viver em sociedade, e ao mesmo tempo uma perspectiva da vida da mulher na Idade Média e ainda um antecipar do pensamento da Renascença. Os grupos sociais a que se dirige a autora identificavam-se em três estratos: as princesas e altas senhoras, as senhoras e donzelas (primeiramente aaquellas que andam em cortes de grandes senhoras), e todas as mulheres do terceiro estado (as que som casadas com leterados de comsselho de Rey ou offiçiaes do guardamento da justiça ou doutros diversos offiçios), e que incluíam as casadas com moradores de cidades ou vilas, as mulheres de mercadores, as mulheres dos mesteirais, as servas de casa, as mulheres dos lavradores, e as mulheres pobres. O fac-simile desta obra foi editado pela Biblioteca Nacional, em 1989, com introdução de Maria Manuela Cruzeiro. A investigadora Ivone Leal analisou o Livro das Três Virtudes em «Cristina de Pisano e Todo o Universo de Mulheres», o que está publicado na colecção Cadernos da Condição Feminina (ed.CIDM, Lisboa, 1999). E como ela própria afirma é abundante a bibliografia existente tanto em língua francesa como em língua inglesa sobre Cristina de Pisano. [Continua. Espelho I, 16.05.07]

2 comentários:

A Lusitânia disse...

Estive uns dias sem poder visitar-te, tentando que o tempo se desdobrasse entre o trabalho normal, a exposição que ando a preparar e ainda a conferência que hoje ia fazer.
Finalmente pude espreitar-se. Surpreendes-me sempre nessa capacidade de criar, de escrever e de partilhar.

Rosa Machado disse...

Cristina não nasceu em Pisa, mas em Veneza.
O apelido vem do pai.