Não sou de escrever sobre o que não gosto. Mas há motivos e motivos, como uma passerelle constantemente preenchida com fotógrafos que fotografam a assistência, invadindo todo o espaço em busca das imagens que encherão as páginas das tais revistas do coração com os jovens actores e actrizes que agora dirigem a sua atenção à moda de autor em Portugal – porque gostam do métier ou simplesmente porque é uma forma simples de aparecer – e demais personalidades de que não interessa aqui falar. Mas afinal o que se passou na passerelle da modalisboa primavera/verão 2009, passa para além dela? E onde?
Há que falar sobretudo do trabalho que é mostrado na passerelle (acho que é para isso que existe), daquilo que ocupou nos últimos meses os ateliers dos criadores e que só algumas pessoas usarão daqui a seis meses, quando chegarmos enfim à Primavera/Verão 2009. Muito do que é proposto pelos criadores fica no ar e inspira-nos, de acordo com o nosso sistema identitário, os nossos valores, gostos, e humor. O Dino Alves é SEMPRE uma lufada de ar fresco - e «transparente», como ele quer ser e propõe. Transparente como conceito, pois este materializa-se nos jogos de tecidos que deixam ver desenhos ou outros tecidos à transparência. Enrugados e volumes guardam detalhes, padrões, e corações. O nosso está com este criador, que respeita o que faz e faz de nós (todos/as) o seu espelho. (IR)Reverência para ele. Oh yeh. Assim como para José António Tenente que nos levou ao seu «teatrinho» imaginário e a partir de uma estudada série de vestidos e alguns modelos masculinos fez a devida vénia à sua fonte inspiradora de eleição: a pintura e com ela o estúdio. Elas, talvez fossem as pintoras, eles as suas obras? Porque não? Sob o título «shehe wrap’s me... shehe wrap’s me not...» JAT utiliza seda, cetins, mikados, mousselines, organzas e tules para desenhar/pincelar com estes tecidos a figura da mulher, atribuindo quase a figuração aos manequins masculinos. No final, um belo quadro (desenvolvido em vários actos, distribuídos por sua vez em sessões de 10 minutos), que só terminou quando surgiu Bárbara Guimarães, num vestido em tons verdes, volumoso, grande laçada à frente, com um padrão que me fez pensar em camuflado. Clap, clap, clap. À porta, a entrada nada fluída, estava já cheia para a sessão seguinte desta(s) peça(s) de (alta) moda por JAT.
(Continua)
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