12.10.08

Baby jornalista

Quatro dias de desfiles = 21 colecções = gente + gente + câmaras + acção = fugir-dali-para-fora. Qual a diferença entre os peregrinos de Fátima (a caminho ou já chegados ao santuário) e os peregrinos da modalisboa? A diferença não está na fé, pois esta também move os grupos à volta da moda. Será o culto? Também não, tanto a religião como a moda são igualmente objectos de culto. As diferenças ficam à consideração de quem gosta de ler os fenómenos sociais.
Todos podemos ser jornalistas quando chegamos à modalisboa. E porque não corta-casacas? Ou então sociólogos, mesmo em versão rápida, como as refeições. Dificil mesmo é conseguir fazer análise social - para além das poluentes e invasivas revistas «do coração», como também são conhecidas - e, claro, Jornalismo.
Dentro dos corredores estreitos da tenda instalada dentro da Cidadela de Cascais - graças ao munícipio que é anfitrião e também à junta de turismo da costa do estoril com quem a modalisboa celebrou um protocolo por três anos (vamos a meio) - ou ao ar livre (o melhor de tudo), os convidados desta edição circulam, conversam, em pequenas tertúlias espontâneas onde se aborda assuntos mais ou menos leves, ou mais ou menos profundos. O que me leva a pensar que esta aproximação ao público devolve-lhe aquela primeira qualidade da modalisboa ao ser apresentada dentro da programação das festas de Lisboa, em 1990, no Jardim do Tabaco, com uma passerelle próxima do público, não deixando de ser profissional, pois é ali que são apresentadas as colecções de pronto-a-vestir de um grupo de criadores/as de moda, que hoje representam já várias gerações, começando na Ana Salazar – parabéns para a nossa criadora mais punk! E desta vez até evitou o preto numa colecção definida pela negação afinal da não-cor.
Entre a mais nova geração, a cidade das mulheres destaca os trabalhos instalados na zona «Workstation»: «O Filho Bastardo», onde é patente o trabalho de fotografia associado à padronagem; «Monstrosities» de Soraia Samju; «Exoskeleton» de Catarina Fernandes – que lança para reflexão «se o corpo é o templo da alma, o vestuário será o templo do corpo»; Burgueses & Rebeldes de Filipa Malho, Marina Pires, Pedro Eleutério; e Cristiano Casimiro, com «In You, Not on You, divided by four», uma série de quatro peças, com efeitos de manga dobrada – macaco curto, manga curta; casaco/jaqueta; casaco meia/manga; casaco a ¾ - em que a roupa é «emoldurada» por conceitos - «1.heart. , 2.mind, 3.complacent, 4.malice» - e ao mesmo veículo para despertar consciências perante situações de flagelo social como o tráfico de mulheres, e o abuso de crianças («a report of child abuse is made every 10 seconds»).
Nos dois primeiros dias o tema desta ModalisboaEstoril «Reflashion» - reflectir sobre a moda - passou à prática numa série de conferências com o patrocínio da Nokia e organizado em parceria com a Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, com a presença de cinco designers de moda lançados no concurso Sangue Novo da Modalisboa e aqui reunidos para apresentar os seus casos profissionais: Susana Cabrito (é designer em Paris, integrando a equipa da Givenchy que desenha a colecção de pronto-a-vestir de mulher), Joana Jorge (é designer em Londres, da etiqueta de Betty Jackson), Filipa Homem (designer da marca sueca H&M), Miguel Flor (designer freenlancer, professor na Academia do Porto) e Sara Lamúrias (designer com marca própria, Aforestdesign).
(continua).

1 comentário:

VITOR disse...

Olá, achei estranha a sua interpretação do meu trabalho. Mesmo assim gostei do facto de me teres recomendado. Obrigado!

Se quiseres saber mais sobre o meu trabalho, segue o link do meu blog:

ofilhobastardo.blogspot.com

Cumprimentos