22.10.08

Marcha Mundial das Mulheres em Vigo

No último fim de semana A Cidade das Mulheres foi até à Galiza, onde decorreu durante toda a semana o VII Encontro da Marcha Mundial das Mulheres, uma rede feminista internacional que agrupa mulheres de mais de 150 países. Delegadas dos cinco continentes reuniram-se durante as jornadas agendadas para Nigrán (Panxón, Playa de Patos), em reflexão sobre como construir um mundo de onde sejam erradicadas a pobreza e a violência. «Todas as pessoas, mulheres e homens, e colectivos, que partilham estes dois objectivos, têm um convite para acompanhar as mulheres vindas dos cinco continentes para dar este passo na cidade de Vigo». E assim foi. No dia 19 de Outubro, pelo meio-dia, perto de 10 mil pessoas desfilaram pelas ruas daquela cidade galega, após uma concentração e espectáculo designado por Milladoiro (montículo formado por pequenas pedras amontoadas ao longo do tempo pelos romeiros e peregrinos que se dirigiam a um santuário religioso), na Plaza do Rei (Plaza do Concello de Vigo). No acontecimento participaram para além das delegadas dos 48 países presentes no Encontro, Ana Gesto, Ada Adriana García e Marta López, criadoras do projecto artístico onde participou também a cantora Uxia Pedreira. A composição escultórica de forma circular incorporava vários símbolos alusivos ao caminho: a sandália, calçado que simboliza a/o viajante, e a soca, calçado galego, e também português, utilizado pela mulher rural trabalhadora e que significa a força. Foram estas peças em bronze que adornaram o Milladoiro feito a partir das pedras de cada país participante no Encontro em Panxón. O espectáculo contou também com intérpretes, que se movimentavam dentro do círculo mais largo feito pelas delegadas. As performers tiravam uma a uma as sandálias - a base da sandália tinha a forma de uma soca, sendo a parte superior desenhada em tiras – do montículo central, dispondo-as em círculo, até não restarem sandálias no centro. Nesta sequência de movimento, as delegadas pousavam por último a pedra que tinham na mão (o mesmo para todas as outras que se encontrvam no recinto), o que simbolizou uma oferenda às deusas. A seguir, viu-se a força e a união das mulheres de todo o mundo - na Galiza - para «Marchar até que todas sejamos livres». As ruas de Vigo foram pequenas para receber todas as mulheres, homens, crianças, famílias enfim, que se juntaram àquela magnífica manifestação do passado domingo, que desembocou junto ao porto, próximo do local onde se realizou a Feira de Soberania Alimentar, tema também em destaque no Forum Interncional de Soberania Alimentar, levado a cabo no sábado, no auditório da Caixanova de Vigo. A manifestação não estaria concluída sem uma série de discursos sintéticos, mas incisivos, de algumas das delegadas, nomeadamente aquelas que são representantes dos cinco continentes. A Cidade das Mulheres destacou o da brasileira Miriam Nobre (coordenadora do secretariado internacional) e disso dará conta aqui numa próxima nota a publicar. Bem como dos cânticos feministas, do qual deixo aqui um excerto: «Deixa passar, deixa passar, sou feminista e o mundo vou mudar». Muito ajudou um percussionista português que vinha a acompanhar as portuguesas, que estavam com a Umar (União de Mulheres Alternativa e Resposta), a AJP (Acção para a Justiça e Paz), o grupo de Lafões e o de Soure. As brasileiras juntaram-se a nós e claro as galegas a quem a cidade das mulheres tira o chapéu em estilo de agradecimento e solidariedade. Ou como gritavam as francófonas: «So-so-solidarité, avec les femmes du monde entier». Não seremos livres enquanto uma de nós não for livre. A luta continua.
Igualdade, paz, liberdade, solidariedade e justiça: estes são os valores subjacentes à Carta Mundial das Mulheres para a Humanidde, uma carta adoptada pelas delegadas da Marcha, reunidas em Kigali, Ruanda, a 10 de Dezembro de 2004, e que é constituída por 31 afirmações que descrevem os princípios essenciais da construção de um (novo) mundo, baseado na igualdade, liberdade, solidariedade, justiça e paz.
A próxima acção reivindicativa da Marcha Mundial das Mulheres está marcada para Outubro de 2010, no Congo. A acção será acompanhada de mobilizações em todo o continente europeu.
[O relato da marcha pode ser lido no El País).

1 comentário:

A Lusitânia disse...

Faz um pouco da caminhada por mim.