15.1.09

Deste lado da história (I)

Hoje a cidade das mulheres vai começar a publicar uma série de textos da autoria de Natividade Monteiro sobre o papel das mulheres portuguesas na história, nomeadamente na história do feminismo em Portugal. Antecipando as comemorações do centenário da República (1910-2010), e com o titulo genérico «Deste lado da história», o texto seguinte, «As Mulheres Republicanas e a Educação » - Parte I foi originalmente publicado pela autora no jornal «Ecos da Marofa».

Foi sobretudo a partir de 1906 que as mulheres convertidas aos ideais da República ganharam cada vez mais visibilidade na imprensa conotada com o Partido Republicano e outros sectores liberais e democráticos, escrevendo, fazendo conferências e dedicando-se ao ensino livre. Por ensino livre entendia-se toda a rede de colégios particulares, escolas dos Centros Republicanos e outras que defendiam um ensino liberal, moderno e secularizado, livre da influência religiosa e clerical.
O ideal educativo republicano visava instruir, educar e formar cidadãos úteis à família, à sociedade e à Pátria. À escola competia educar e guiar os alunos para a acção, para a realização de ideias e apetrechá-los com conhecimentos e técnicas para se inserirem no mundo moderno em constante progresso e mudança. Competia ainda desenvolver-lhes a vontade de serem pessoas resolutas, seguras de si próprias e cidadãos conscientes, activos e responsáveis. Os professores eram considerados os “árbitros dos destinos morais da Pátria” e os “guias supremos da consciência dos povos”.
À data da implantação da República, 5 de Outubro de 1910, as mulheres constituíam a maioria do professorado, não só dos Centros Escolares Republicanos, mas também das escolas oficiais, pois desde a reforma educativa de 1878 que se vinha assistindo à feminização do ensino primário. Assim, é relevante a influência que as mulheres vão exercer sobre as novas gerações, através da instrução e educação ministradas nas escolas liberais, sob a orientação de um modelo pedagógico que privilegiava os ideais da liberdade, da igualdade perante a lei, da justiça e da democracia. Num país com mais de 70% de analfabetos, os Centros Escolares Republicanos representavam em 1910 uma fatia significativa da oferta educativa dirigida aos mais desfavorecidos. Nesta data, eram cerca de cento e sessenta e cinco e contavam com mais de quatro mil alunos, sobretudo nas cidades de Lisboa e Porto. A este universo escolar de cariz republicano, juntavam-se a Associação das Escolas Liberais, a Liga Nacional de Instrução, o Grémio da Instrução Popular, o Grémio da Educação Racional, a Academia dos Estudos Livres, a Universidade Livre e a Escola Oficina nº. 1, novidade e modelo pedagógico das escolas primárias entretanto criadas e que sobreviveu até aos nossos dias.

Natividade Monteiro

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