3.3.09

Corpo, mulher e imagem (II)

A 3 de Março de 1996 despedia-se deste mundo a escritora, cineasta e feminista Marguerite Duras. Quem foi ao seu encontro no ano passado, neste mesmo dia, foi Maria Gabriela Llansol, uma das nossas escritoras mais inovadoras e originais. Hoje, Llansol é evocada numa sessão do Espaço Llansol na Assírio & Alvim, em Lisboa, pelas 18h30. Quanto a Duras, fica aqui o início de «O Amante»:

«Um dia, já eu era velha, um homem dirigiu-se à entrada de um lugar público. Deu-se a conhecer e disse-me: "Conheço-a desde sempre. Toda a gente diz que você era bonita quando era nova, vim dizer-lhe que, para mim, acho-a mais bonita agora do que quando era jovem, gostava menos do seu rosto de mulher jovem do que daquele que tem agora, devastado."


Penso frequentemente nesta imagem que sou a única a ver ainda e de nunca falei. Está sempre aí no mesmo silêncio, deslumbrante. É, de todas, a que me agrada de mim própria, onde me reconheço, onde me encanto.»

E salto para «Amigo e Amiga - curso de silêncio de 2004», XIX. do céu, Maria Gabriela Llansol,


«__________________ (risco o traço, que desaparece)


ela começou agora a compreender que o convívio apaixonado é um princípio da imagem. Se eu ligar todas as pontas e for para o jardim do quarto onde as imagens florescem do gomo, elas abrem-se no dependente abandono de umas às outras, mas, no fim do convívio libidinal, quando o reminiscente nasce, mergulham na quantidade de vezes em que se repetem por segundo, e onde o homem nu toca piano. Para isso, também a mulher era fotógrafa, sem qualquer máquina fotográfica, ou outra, a empecilhar-lhe as mãos.


Seus sentidos maduros estavam voltados para o sexo do piano, o vislumbre que se imagina.»

1 comentário:

A Lusitânia disse...

amiga, diria eu, como consegues tu tão bem dar a conhecer, a fazer não esquecer, essas outras mulheres que tão bem conseguiram do mundo falar?