Aos 20 anos desenhou a sua primeira colecção de pronto-a.-vestir que intitulou “Cordas e metais”. Estávamos então em 1986 e José António Tenente (n.Cascais, 31.03.1966) era um promissor designer de moda. A sua primeira loja foi aquela que abriu a 31.12.1990, e que hoje podemos continuar a visitar no nº8 da Travessa do Carmo, em Lisboa (ao Chiado). Segue-se um excerto de uma entrevista que lhe fiz em 2002.
Quem são os/as clientes de José António Tenente ?
JAT –A grande maioria é constituída pelo grupo de idade dos 30 aos 45 anos. É nesta faixa que se situa também o nosso público masculino. No caso feminino temos abaixo e acima desta camada etária: raparigas mais jovens e depois também senhoras acima dos 45 anos. O nosso público é informado, conhece os panoramas das ofertas, conhece a marca, identifica-se com o nosso trabalho de detalhe, de diferença. São pessoas que estão bem com elas próprias. Não é o género de pessoa que gosta de ser o centro das atenções, mas que adora a pequena diferença e aquela pequena irreverência de alguma coisa que sabe que vai suscitar aquele efeito no meio. Aposta nessas diferenças e claro dispõe de algum poder de compra. As marcas em que nós nos inserimos não são para as massas. Contudo, temos preços simpáticos, acessíveis e viáveis. Aquilo que eventualmente afastará uma camada mais jovem não é tanto o preço, mas mais o estilo. Não fazemos uma roupa muito teenager nem muito streetwear, portanto a camada que acaba por consumir é a camada etária a partir dos 25 anos, porque já tem uma formação de gosto determinada, já começou a definir a sua escolha. Até aí nós fazemos todos parte de uma amálgama, em que não gostamos de sair da norma, daquele grupo, ou do grupo em que queremos estar, e para estar naquele grupo temos de vestir de uma determinada maneira.
Qual é o princípio essencial que preside à criação de uma colecção?
Qual é o princípio essencial que preside à criação de uma colecção?
Isso depende muito das ideias que estão subjacentes à colecção. Por vezes há ideias que têm subjacente o dia a dia, outras uma pesquisa histórica, que me leva directamente para qualquer lado. Estas últimas colecções voltaram a ser menos pragmáticas, ao nível da imagem. Voltaram a ter subjacente ideias construídas para uma imagem global. Quando pegamos nas peças destas colecções e as desconstruímos elas podem ser vestidas de outra maneira. Muitas pessoas podem ter acesso às peças e fazer delas o que lhes apetecer. Para mim a colecção de Inverno 2002/03 partiu da pintura holandesa [Vermeer, Rembrandt] e de retratos. Eu gosto imenso de retratos, tanto na pintura como na fotografia. Toca-me sempre imenso aquela relação que se estabelece entre quem está a pintar e quem está a ser retratado - aquele olhar, aquela cara que, de repente, leva-nos não sei para onde, aquela intensidade e aquela emoção. Partir de uma ideia que no fundo é tão abstracta para fazer roupa, traduz-se em vestuário com algumas referências – históricas ou não. Eu imagino esta colecção vestida de outra maneira. A de Verão a mesma coisa, sendo que ali preside um imaginário absolutamente romântico.
Quais são hoje as tuas influências?
Quais são hoje as tuas influências?
As minhas referências não serão muito contemporâneas. São aquelas coisas que me dizem muito: a música, a pintura, o cinema, a dança, que são para mim tão fundamentais quanto a informação de moda. Esta às vezes acaba por ser mais uma referência no meio de uma panóplia. No meu caso há colecções que custam imenso a nascer, porque não há aquele clic que faz com que as coisas apareçam. E há outras que não. Nesta colecção de Primavera/Verão [2002], que tinha muito a ver com lembranças, e correspondência amorosa, não me preocupei muito se isto ía calhar na ‘mosca’ ou não. Comercialmente a colecção de Verão está a correr muito bem e o público reagiu positivamente a esta colecção. Até me surpreendeu esta resposta tão efusiva. Porque a colecção é muito romântica e o público feminino é de facto muito romântico. De uma maneira geral aquela imagem estereotipada que se tem de uma mulher emancipada, coexiste de facto com o lado da mulher romântica. Há sempre aquela necessidade do saia-casaco formal, mas esta personalização das peças e do cuidado com o detalhe tiveram uma boa resposta. Temos um público que se identifica muito com isto.
Cristina L. Duarte
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