Foi feito hoje ao meio-dia o plantio de um carvalho no Jardim Botânico da Ajuda, uma homenagem da UMAR a Angelina Vidal (1847-1917) uma republicana e socialista que defendeu os direitos das mulheres trabalhadoras. Esteve presente o bisneto de Angelina, Campos Vidal, que lançará em breve um livro sobre a sua bisavó.
Filha de um músico de nomeada herdou do pai as atitudes desassombradas, o desafio das convenções. O próprio marido, médico da Armada Real, não aceita o seu comportamento temerário: é uma das primeiras mulheres a discursar ao lado dos grandes nomes da República: os seus discursos, em 1880, no Porto, em dois comícios republicanos, ficaram célebres - assumiu-se como livre pensadora e contra o regime monárquico.
Mãe de cinco filhos, separou-se do marido, ao fim de doze anos de casamento Para ganhar a vida, desdobra-se a trabalhar: foi tradutora, contista, ensaísta, professora, conferencista, poetisa, dramaturga e jornalista. Nos últimos 30 anos da Monarquia, escreveu em quase todos os jornais revolucionários. O que disse, o que escreveu, acarretaram-lhe retaliações por parte do Governo monárquico, que lhe recusou a pensão por morte do marido em 1894 alegando que era «inimiga das instituições e andava a combater o regime monárquico». Não será também, a República, a instituir-lhe a pensão. Não era amada pelos políticos seus companheiros de ideário; militante do Partido Republicano federalista, adepta dum ideário republicano de raiz socializante e anti clericalista, critica, nos jornais, os jogos da política, as querelas entre facções do mesmo quadrante, o empolamento no Parlamento de questões secundárias em detrimento dos grandes problemas nacionais. Dois anos após a implantação da Republica, Angelina Vidal, desiludida com o caminho que a República levava, chama a atenção para a emigração assustadora, a decadência da indústria e do comércio, a miséria do proletariado, a paralisação de todas as forças vivas do país.
Também nos jornalistas fez inimigos: para ela os jornais eram a instrução do povo e como tal deviam promover as boas práticas políticas e transmitir aos trabalhadores a consciência dos seus direitos e deveres, em vez de explorarem os escândalos domésticos, os faits divers, que destruíam a moral.
Angelina Vidal ocupa um lugar proeminente entre as pioneiras que defenderam a educação para a mulher como plataforma para a igualdade. Nesse âmbito, chama a atenção para as deficientes condições de trabalho em que vive a operária que não pode criar os filhos de modo a fazer deles os cidadãos de que o país necessita, enquanto nação civilizada. Ganham tão miseravelmente, que, «por muito virtuosa que seja a mãe de família, há-de forçosamente baquear nos charcos da prostituição.»[1]
Denuncia as condições de insalubridade em que vivem as operárias de manhã `a noite, nas fábricas algodoeiras: «uma atmosfera carregada de irritante poeira do cotão algodoeiro», que lhe entra pelo nariz até se fixar nos pulmões onde numa primeira fase provoca «Inflamação pulmonar», e, meses depois, «vem as seccuras da boca, e a tosse, guarda avançada da tuberculisação. O que lhe afrouxa a actividade productora e diminue o salário…[2].
Mais aflitiva ainda é a descrição que faz das fábricas fosforeiras, onde o calvário da operária começa «pelas perturbações angustiosas do aparelho gástrico. O roteiro da destruição é sabido: cephalalgias violentas, necrose phosphorica, destruindo-lhes as maxilas. Em alguns cazos affecçoes cerebraes, em grande numero a tuberculose pulmunar, com fortíssimos acessos de tosse, cava, sinistra, secca como o martello do desespero pregando as taboas de um caixão».[3]
Ao mesmo tempo que denuncia a exploração de que são vítimas, por parte dos patrões, critica-lhes a falta de sindicalização, a que chama «a sua repelência pelos princípios de confraternização que dá aos exploradores a garantia de enriquecerem».[4]
Defendeu um ideal de justiça social e repudiava o poder arbitrário, fosse de que côr política fosse : admirava o Marquês de Pombal, mas condenou as penas que considerava cruéis aplicadas a alguns dos intervenientes no Motim dos Taberneiros (reacção popular à criação da Companhia das Vinhas do Alto Douro), ou à marquesa de Távora (ainda que esta representasse uma classe particularmente odiada por ela) e ao padre Malagrida (apesar da aversão aos jesuítas). Condenou o duplo assassinato de D.Carlos e D. Luís Filipe, no jornal católico “Portugal”, do padre José Lourenço de Matos, que fez violentas campanhas contra os republicanos.
Esteve ao lado dos que fizeram a Republica, arriscando segurança e família. Perdeu tudo uma segunda vez quando se empenhou na defesa do operariado e dos direitos das mulheres operárias e trabalhadoras.
Intransigentemente fiel a um ideal de justiça, igualdade e fraternidade, zangou-se com todos os que pactuavam com meias medidas e soluções parciais.
E tal como aqueles que defendia, morreu na miséria em 1917.
Mãe de cinco filhos, separou-se do marido, ao fim de doze anos de casamento Para ganhar a vida, desdobra-se a trabalhar: foi tradutora, contista, ensaísta, professora, conferencista, poetisa, dramaturga e jornalista. Nos últimos 30 anos da Monarquia, escreveu em quase todos os jornais revolucionários. O que disse, o que escreveu, acarretaram-lhe retaliações por parte do Governo monárquico, que lhe recusou a pensão por morte do marido em 1894 alegando que era «inimiga das instituições e andava a combater o regime monárquico». Não será também, a República, a instituir-lhe a pensão. Não era amada pelos políticos seus companheiros de ideário; militante do Partido Republicano federalista, adepta dum ideário republicano de raiz socializante e anti clericalista, critica, nos jornais, os jogos da política, as querelas entre facções do mesmo quadrante, o empolamento no Parlamento de questões secundárias em detrimento dos grandes problemas nacionais. Dois anos após a implantação da Republica, Angelina Vidal, desiludida com o caminho que a República levava, chama a atenção para a emigração assustadora, a decadência da indústria e do comércio, a miséria do proletariado, a paralisação de todas as forças vivas do país.
Também nos jornalistas fez inimigos: para ela os jornais eram a instrução do povo e como tal deviam promover as boas práticas políticas e transmitir aos trabalhadores a consciência dos seus direitos e deveres, em vez de explorarem os escândalos domésticos, os faits divers, que destruíam a moral.
Angelina Vidal ocupa um lugar proeminente entre as pioneiras que defenderam a educação para a mulher como plataforma para a igualdade. Nesse âmbito, chama a atenção para as deficientes condições de trabalho em que vive a operária que não pode criar os filhos de modo a fazer deles os cidadãos de que o país necessita, enquanto nação civilizada. Ganham tão miseravelmente, que, «por muito virtuosa que seja a mãe de família, há-de forçosamente baquear nos charcos da prostituição.»[1]
Denuncia as condições de insalubridade em que vivem as operárias de manhã `a noite, nas fábricas algodoeiras: «uma atmosfera carregada de irritante poeira do cotão algodoeiro», que lhe entra pelo nariz até se fixar nos pulmões onde numa primeira fase provoca «Inflamação pulmonar», e, meses depois, «vem as seccuras da boca, e a tosse, guarda avançada da tuberculisação. O que lhe afrouxa a actividade productora e diminue o salário…[2].
Mais aflitiva ainda é a descrição que faz das fábricas fosforeiras, onde o calvário da operária começa «pelas perturbações angustiosas do aparelho gástrico. O roteiro da destruição é sabido: cephalalgias violentas, necrose phosphorica, destruindo-lhes as maxilas. Em alguns cazos affecçoes cerebraes, em grande numero a tuberculose pulmunar, com fortíssimos acessos de tosse, cava, sinistra, secca como o martello do desespero pregando as taboas de um caixão».[3]
Ao mesmo tempo que denuncia a exploração de que são vítimas, por parte dos patrões, critica-lhes a falta de sindicalização, a que chama «a sua repelência pelos princípios de confraternização que dá aos exploradores a garantia de enriquecerem».[4]
Defendeu um ideal de justiça social e repudiava o poder arbitrário, fosse de que côr política fosse : admirava o Marquês de Pombal, mas condenou as penas que considerava cruéis aplicadas a alguns dos intervenientes no Motim dos Taberneiros (reacção popular à criação da Companhia das Vinhas do Alto Douro), ou à marquesa de Távora (ainda que esta representasse uma classe particularmente odiada por ela) e ao padre Malagrida (apesar da aversão aos jesuítas). Condenou o duplo assassinato de D.Carlos e D. Luís Filipe, no jornal católico “Portugal”, do padre José Lourenço de Matos, que fez violentas campanhas contra os republicanos.
Esteve ao lado dos que fizeram a Republica, arriscando segurança e família. Perdeu tudo uma segunda vez quando se empenhou na defesa do operariado e dos direitos das mulheres operárias e trabalhadoras.
Intransigentemente fiel a um ideal de justiça, igualdade e fraternidade, zangou-se com todos os que pactuavam com meias medidas e soluções parciais.
E tal como aqueles que defendia, morreu na miséria em 1917.
Com o recuo do tempo, podemos tornar nossa, a afirmação do seu bisneto, o Engº Campos Vidal. uma mulher «fácil de admirar, difícil de amar». De acordo com as investigações feitas por este, Angelina terá nascido a 11 de Março de 1847, seis anos antes do que é comummente afirmado e até foi baptizada na igreja paroquial de são José em 1849, quatro anos antes de 1853, o ano que é referido como sendo o do seu nascimento. Mas isso fica para a leitura da biografia que vai sair ainda este mês. Diz o Eng. Campos Vidal, que a estudou ao pormenor, anos a fio, que «Angelina Vidal é uma mulher fácil de admirar, difícil de amar».
Maria Augusta Seixas
9-3-2010
1A voz do operário, 24 /9/1882
2 Angelina Vidal, Alma Feminina, nº 6, 13/6/1906
3 idem
4 Angelina Vidal, «Crise operária na Fabrica das Barreiras», A Voz do Operário, 9/11/1884.
Maria Augusta Seixas
9-3-2010
1A voz do operário, 24 /9/1882
2 Angelina Vidal, Alma Feminina, nº 6, 13/6/1906
3 idem
4 Angelina Vidal, «Crise operária na Fabrica das Barreiras», A Voz do Operário, 9/11/1884.
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