17.3.10

Jogos de identidade

V!TOR é uma outra forma de escrever Víctor Bastos (n. 1984, S.Paulo). Poderia ser também uma nova fórmula laboratorial: ‘vector’ de intervenção = acção de moda. O jovem designer que estudou no Citex, no Porto, apresentou a sua colecção na plataforma LAB da ModaLisboa, no passado domingo, no MUDE. A cidade das mulheres foi aos bastidores falar com ele.

Cristina L.Duarte: Auto-biografia desta colecção apresentada na ModaLisboa, no Mude. Se ela fosse uma pessoa como descreverias a colecção «Macedonian identity»?
Vítor Bastos: a coleccção começou na anterior, portanto é um antagonismo falar da Macedónia depois de ter falado da Grécia. A colecção segue de uma forma muito insegura, porque lida com muita informação diferente. A identidade através da não-identidade foi o ponto máximo que tentei alcançar com esta colecção, usando o cartão, cinco ou seis diferentes tipos de lã, padrões, camadas, cores – do laranja ao azul. Há muitas ideias opostas. A autobiografia da colecção seria um bocadinho lunática, como uma pessoa que não sabe quem é e quer se afirmar como algo.

Pensas a moda como intervenção social/colectiva, ou como intervenção individual?
VB – É uma intervenção social e colectiva pela visibilidade que tem. Ao passar muita informação há muitas falhas; acontece às vezes no LAB, por isso fizémos o jornal, por causa da falha na comunicação. Há imprensa que liga mais ao texto, outra liga mais à imagem, e o público pode pender mais para um lado ou para outro. O trabalho é individualista: começo com um objectivo, mas é um projecto social e colectivo, de forma que ao conseguir passar a informação, esta vai ser sempre passada para a frente, mesmo boca a boca. Foi uma experiência que eu vivi e passei para uma série de pessoas. [Vítor Bastos foi à Macedónia no ano passado representar Portugal no âmbito da Mostra Jovens Criadores, promovido pelo Clube Português de Artes e Ideias]. Tenho um ponto de vista, mas não quero ser interventivo quanto ao meu ponto de vista. Por isso falei da Grécia e depois da Macedónia. Não quero impôr opinião, mas sim informação, porque isso tem de se impôr mesmo. E a partir dessa informação e com as pessoas a falar sobre esse assunto, vou abrir o leque para raciocínio e é isso que me interessa.

Pensas no tema da igualdade de género aplicado à moda?
VB – Sim. Faço a colecção 50% - 50%. A minha ideia é dividir a colecção ao meio e obter uma roupa sem sexo. A roupa flutua de um lado [género] para o outro. Porque a roupa tem mais informação para além dessa. Metade desta colecção apresentada aqui, apresentei-a em Berlim, na Fashion Week, com uma instalação, em Janeiro passado. Depois ela terá outra construção no livro que vou publicar. Quando a pessoa comprar uma peça da colecção, terá outra identidade. O sexo da roupa é só mais um pormenor.

Feminilidade – dá-me um sinónimo...
VB - ... associado ao feminino, é só um acerto.
Masculinidade...
VB - ... acerto.

Desejo...
VB - Vontade.

Quando partes para uma colecção, partes de onde?
VB – Do conceito e da ideia. Mas primeiro, das experiências de vida. E das conversas de café.

Pensas em alguém quando estás a desenhar?
VB - Não. Penso muito na forma da peça. Mas não tenho divas.

Qual é para ti a força da moda em Portugal?
VB – A moda em Portugal tem força mas acho que, de momento, está a ser castrada pela forma em que é veiculada. Sinto um pouco isso. A moda aqui tem muita força. Eu fui para fora e vi a moda acontecer e o nível daqui é muito alto. Não há sequer a noção própria deste nível. Há problemas de comunicação de moda. Comunicar a moda é mesmo uma situação frágil.

Sem comentários: