15.3.10

LAB de laboratorial

Desde de que o MUDE está na Rua Augusta, os candeeiros da sala onde foi apresentada a sua video-instalação acenderam-se pela primeira vez. E isso aconteceu para Sara Lamúrias. Ela faz parte da Plataforma Lab (plataforma de acolhimento de novas linguagens de design de moda), tendo apresentado o seu trabalho no passado sábado 13 de Março, na 34ªedição da Modalisboa. Para a autora de aforestdesign quando se produz trabalho este vive nas outras pessoas de maneira(s) diferente(s). A sua vídeo-instalação pode ser vista em Lisboa, no MUDE, até 31 de Março.

Cristina L. Duarte: Auto-biografia desta colecção Outono/Inverno 2010/2011 - se fosse uma pessoa, como descreverias a colecção?
Sara Lamúrias: Esta colecção é autobiográfica. Nela está a minha relação com o trabalho. É por isso muito «eu». Fui à procura das razões porque trabalho com vestuário [aforestdesign chegou à Modalisboa na sua edição 24, Outono/Inverno 2005/2006. Ver in Cristina L.Duarte, Moda Portuguesa, CTT, Lisboa, 2005].
Estou a criar para alguém e esse alguém dá-me um feed-back de utilização das peças e de percepção. Por isso elas têm duas formas de vestir.

E tu tens duas formas de vestir?
SL - Eu sou um pouco isso também. Tenho esta ambivalência. O meu trabalho é sempre muito do fundo e nesta colecção assumi que o meu trabalho vem do meu fundo. Foi quase como assumir esta... essência.

Gostas de ginástica?
SL - Adoro. Eu quis ser ginasta. No vídeo, ela é a Raquel Narciso (ex-ginasta), e ele é André Lico, campeão do mundo de duplo mini-trampolim. Foi um privilégio tê-los aqui.

Qual o título deste trabalho?
SL - «I Am A Strange Loop». Retirei-o do livro de Douglas Hofstadter. Encontrei-o e interessei-me por ele.
Tem a ver com a comunicação, que sai de nós, e depois volta. Estava a fazer pesquisa e passei também pela Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll, aquela história dos flamingos que são chapéus de chuva, os pássaros que são pares de óculos. Acho que isto tem a ver comigo, com aquilo que eu faço. E por isso fui dar ao Hofstadter, que faz um cruzamento de ideias entre um matemático, um artista, o Escher, e um músico, o Bach, e isto de um ponto de vista filosófico. É através da filosofia que tenho encontrado este meu «eu».

Pensas a moda como intervenção social/colectiva, ou como intervenção individual?
SL – Tenho usado a moda nesse sentido colectivo, nomeadamente através do projecto Combo, em que vou ao encontro do comércio tradicional.

Pensas no tema da igualdade de género aplicado à moda?
SL – Sim, desde o início do meu trabalho.

Pensas que o vestuário fala e se fala o que é que diz?
SL - Diz muita coisa. Se for num contexto mais empresarial, diz uma coisa; se for num contexto mais informal, diz outra. Até a forma como se coloca um cachecol. Ou como o casaco fica na pessoa. Os designers estão muito atentos a isso, à forma como as pessoas habitam a roupa.

Feminilidade – dá-me um sinónimo...
SL – Intensidade.

Masculinidade...
SL – Assertividade.

Desejo...
SL - Paixão.

Por onde começas uma colecção?
SL – Não tenho uma regra. Parto de uma ideia. Às vezes é um elemento chave, que faz um clique. Nesta colecção foi o encontro com o livro de Douglas Hofstadter. A primeira coisa que fiz foi escrever o texo da colecção, fiz um diálogo comigo própria.

Quando partes para uma colecção pensas no corpo de alguém?
SL – Sim, sempre. Num corpo de homem e num corpo de mulher.

Sem comentários: