Parte III
’Venham mais cinco’: a canção que Faísca escolheu para o final do desfile e que recordo aqui para falar de mais nomes que já passaram pela passerelle da ModaLisboa (Outono/Inverno 2007/08). Dino Alves (n.Anadia, 1967) colocou a manequim Sofia Baessa a abrir o seu desfile com uma gigantesca sombrinha-chapéu, cor branca. Mulher-anjo, futurista, onírica, consoante a vida terrena (nos) permite. O mais comum é que uma colecção de Dino dê origem a uma galeria de personagens etno-urbanas, como se os homens e mulheres em presença na passerelle estivessem prontos a entrar para dentro não de um, mas de vários filmes. Desta vez, Dino escolheu apresentar roupa, sem muita encenação à sua volta. Para tal, recorreu a uma silhueta muito volumosa, combinada com peças muito cingidas ao corpo; quis experimentar volumes inesperados e uma silhueta facetada, misturando para além disso imagens angelicais, com outras mais agressivas e austeras. Explorou efeitos de texturas em tamanhos XXL – desfocado/enevoado, lados diferentes numa mesma peça, corrente em escala gigante, arte aplicada, efeito puzzle - e aplicou motivos, por exemplo, pássaros sobre saia em tule. A Cidade das Mulheres gostou de ver o esforço do Dino em fazer roupa para vestir no dia a dia, e da variedade de propostas que ele apresentou (nos mais variados padrões e materiais: algodão, mousseline, seda, tule, vinyl, lã, poliesters, pele, e pêlo artificial).
Sábado, o dia começou com Tenente no museu, isto é, às 12h00 lá estávamos nós para ver a colecção de mulher e homem de José António Tenente (n.Cascais, 1966). Ao fim da manhã sinto-me mais fresca para absorver o que a passerelle me traz, muito mais do que ao fim de um dia de ver desfiles e colecções. A paleta que ele criou é minimal. Preto, com efeitos gráficos em azul, ou em amarelo. Por vezes, riscas estreitas preto no branco. Marcada por aquilo que Tenente chama um futurismo ingénuo, sinto na colecção uma história de vários tempos e andamentos, sobretudo nas mulheres, pela junção de estilos característicos à ética de design de Tenente: imagine-se uma senhora de 1900 (da cintura para cima) vestida com uma mini à anos 60. Giro, não? Os arranjos de cabelo, num apanhado atrás (à bailarina) e dentro de uma rede/tule em balão dava às mulheres um ar ibérico. Os casacos/capinha (um pouco à sherlock), mas também as capas pelo joelho (qual capucha de burel, mais comprida), os pulovers masculinos com grandes V no decote, os grandes bolsos para elas, como se fosse uma mini aberta à frente e atrás, ao meio, e os deliciosos mini-vestidos em cetim amarelo, com renda «guipure» e sombra escura por baixo e ainda um delicioso vestido comprido, largo, com um decote em forma de lágrima (grande), tudo isto e muito mais deliciou a Cidade das Mulheres que anotou ainda como a imagem da coreógrafa Martha Graham é omnipresente na colecção, fazendo-se assim a ponte com a colecção anterior, quase uma homenagem à dança.
Logo que possível, A Cidade das Mulheres converterá as anotações registadas à beira da passerelle em informação escrita e visual. Para já, corro para o museu, onde me espera «aforest» (Sara Lamúrias).
Fotografia: Rui Vasco/ Arquivo ModaLisboa
11 de Março: 14h00 aforest-design / LAB; 15h00 Aleksandar Protich / LAB; 16h00 Lidija Kolovrat; 17h00 Anabela Baldaque; 18h00 Nuno Baltazar; 19h00 Pedro Mourão; 20h00 Maria Gambina.
Cristina L. Duarte